Comportamento

Muito mais que o rosa e azul

12/01/2019

Imagine viver em um mundo dicromático. Rosa para meninas, azul para meninos, sete tons de rosa no arco-íris, flores e frutas em várias tonalidades de azul. Num mundo com duas cores, Toquinho não poderia desenhar um sol amarelo em uma folha qualquer e continuaríamos sem saber o que Ritchie quis dizer com “um abajur cor de carne”. 

Apesar de não ser tão antiga essa ideia de divisão de cores para meninos e meninas, ela nunca esteve tão equivocada, por um motivo muito simples: as cores são importantes para o desenvolvimento dos seres humanos desde a primeira infância, de acordo com vários estudos voltados à Pedagogia das Cores. Assim, quanto mais colorido for um ambiente, por exemplo, mais rápido as crianças desenvolvem sua percepção de mundo. 

O que diz a Pedagogia das Cores?

As cores exercem grande influência no aprendizado infantil e, nos primeiros meses de vida, elas são primordiais. A visão do bebê, por exemplo, se desenvolve gradualmente no primeiro ano de vida. Por isso, brinquedos de cores brilhantes e primárias o incentivam a concentrar os olhos e aprender a rastrear objetos em movimento. Especialistas estimam que o vermelho seja a primeira cor que as crianças conseguem ver claramente, por volta dos quatro meses.

Com base nisso, profissionais da Pedagogia têm aproveitado as cores como forma de estimular o desenvolvimento infantil. A chamada Cromopedagogia (ou Pedagogia da Cores) se vale do potencial de cada tonalidade na hora de oferecer estímulos que servirão para o aprendizado da criança.

Recentemente, um estudo Associação Espanhola de Pediatria (AEP) revelou que até mesmo a cor dos brinquedos afeta o comportamento e a personalidade dos pequenos. Os brinquedos vermelhos incentivam dinamismo e o movimento e, por isso, são recomendados para as crianças mais tranquila, que precisam de atividade. 

Os azuis causam o contrário: favorecem o relaxamento e ajudam na hora do soninho, sendo aconselhados para crianças ativas e irritadiças. Os amarelos são essenciais para a concentração e ajudam no desenvolvimento da inteligência. Na cor laranja, os brinquedos incentivam a alegria e, de acordo com a Cromopedagogia, são ideais para as crianças que passam por uma etapa de tristeza. Os de cor branca promovem o descanso e o relaxamento.

Como os pais podem usar as cores no dia a dia?

Se você caiu na tentação de decorar todo o quarto e abarrotar o guarda-roupa da sua filha (ou filho) de 50 tons de rosa (ou azul), talvez seja o momento de repensar e iniciar a tarefa de incluir, aos poucos, as cores neste espaço que, por algum tempo, será o mundo dela ou dele.

O ideal é iniciar os estímulos desde bebê, introduzindo, por exemplo, um móbile bem colorido no berço. Com cerca de um ano e meio, ele já começa a perceber a diferença entre uma cor e outra, ainda que não saiba nomeá-las. Que tal incentivar esse descobrimento por meio dos alimentos? Levar o pequeno a uma feira-livre é uma ótima oportunidade de apresentá-lo às mais diversas cores de frutas, legumes e verduras. 

É importante, neste processo, associar a cor ao objeto. Uma dica é convidar a criança a comer uma deliciosa maçã de cor vermelha. Ela se sentirá estimulada por ser uma fruta de coloração vibrante, por exemplo. O mesmo vale para a higiene pessoal: uma escova de dente ou esponja de banho colorida motiva indiretamente a criança a manter-se limpa.

Jogada de marketing

Menina e seu irmão bebê usando vestido branco. Estados Unidos, 1920 Fonte: BBC

O surgimento da divisão de cores por sexo é de deixar muito marmanjão que tem aversão à camiseta rosa de queixo caído. A historiadora Jo B. Paoletti, autora do livro "Pink and Blue: Telling the Girls from The Boys in America" (Rosa e Azul: diferenciando meninas de meninos dos EUA), afirma que, até o início do século XX, ninguém se preocupava muito com as cores no momento de vestir as crianças. Tingir tecidos era um processo muito caro para as famílias e, por isso, prevaleciam o branco e os tons pastéis.

Ela explica que, quando as cores foram introduzidas no vestuário infantil, eram escolhidas de acordo com o tipo físico da criança. Assim, era comum ver bebês de olhos azuis vestindo azul e de olhos castanhos vestindo rosa. 

A jogada de marketing aconteceu pouco antes da Primeira Guerra Mundial, quando uma revista de moda infantil norte-americana Earnshaw’s Infants’ Department publicou, em 1918, o seguinte texto: “A regra geralmente aceita é que rosa é para os meninos, e azul para as meninas. O motivo é que o rosa, sendo uma cor mais decidida e forte, é mais apropriado para meninos. Enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina".

A mudança para rosa para meninas e azul para meninos ocorreu somente após a Segunda Guerra Mundial. "O conceito de igualdade de gênero emergiu e, como resultado, reverteu a perspectiva sobre como o azul e rosa eram associados a meninos e meninas", escreve a historiadora.

Já na década de 80 essa divisão ficou mais acentuada quando os exames de ultrassonografias passaram a ser usados por ginecologistas e obstetras. Uma vez que se tornou possível saber o sexo dos bebês, as grandes marcas de moda infantil começaram incentivar os futuros pais a trocarem os enxovais neutros pelo azul ou rosa.

 

Fotos: Pixabay