Sabemos que a vida não é feita só de notícias boas. Mas o início de 2019 não tem sido nada fácil. Parece que uma nuvem negra teima em pairar sobre nós, tamanha a sucessão de fatos trágicos, lamentáveis.
Claro que falo de Brumadinho. Claro que falo da morte absurda dos dez jovens das categorias de base do Flamengo. E claro que falo da perda do jornalista Ricardo Boechat.
O âncora do “Jornal da Band” e da Bandnews FM se foi num acidente de helicóptero. O melhor do país naquilo que fazia. Conseguia ser ponderado e contundente nos momentos certos. Não perdia o espírito crítico e contestador. Por vezes, passava um pouco do ponto, mas não é fácil assumir o microfone de rádio e tevê praticamente todos os dias sem as vezes exagerar na dose.
Em seu último programa, comentou justamente nossa sucessão de tragédias. “Quando você vai vendo o desdobramento das reações no Estado a esses eventos, não só os agentes públicos não pagam nada por isso como os agentes privados também não. Esse é o ponto que une todas essas tragédias… A impunidade é o que rege, comanda, a orquestra das tragédias nacionais. Quando a gente chora, lamenta, parecemos estar anestesiados ou gostar da anestesia que nos faz esquecer tão logo surge o fato de amanhã que terá o mesmo tratamento”.
No rádio, destaco sobretudo seus bate-papos diários com o colunista José Simão, que via de regra rendiam momentos impagáveis, mostrando que no jornalismo também há espaço para o bom humor.
Não me lembro de nenhum outro nome atual do jornalismo nacional tão respeitado quanto Ricardo Boechat, seja por colegas de profissão ou fora do âmbito jornalístico.
E não acredito que esteja exagerando. O impacto do seu falecimento foi tamanho que a Bandnews FM saiu do ar por alguns minutos. Não havia como continuar os trabalhos, ninguém tinha condições de assumir o microfone – algo que um emocionadíssimo José Luiz Datena fez na tevê.
Sincera e honestamente, não vejo hoje alguém com a mesma estatura de Ricardo Boechat para assumir o “Jornal da Band”.
É complicado quando uma referência se vai, em especial num momento como este que vivemos, de turbulência absoluta e sensação de total desamparo na sociedade. Descanse em paz, Boechat. E obrigado por dignificar um jornalismo já há tempos claudicante.
Foto: Divulgação/Band News
