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Um passeio nostálgico pela Boca de Santos

16/03/2019

A insossa vida noturna da Santos de hoje em nada lembra o “fervo” que havia na cidade muitos anos atrás. As construções abandonadas à beira do cais, na região do Paquetá, guardam incontáveis narrativas de uma verdadeira época de ouro da boemia santista. Quem vive para contar, lembra com empolgação dos shows musicais de artistas famosos em casas noturnas e bares e das meninas estrangeiras que “faziam a vida” nos cabarés. Os causos, memórias e histórias de um tempo áureo da noite de Santos estão reunidos no livro “Boca bendita”, do escritor Sergio Teles Fernandes Lopes, que será lançado na próxima terça-feira (19), pela editora Comunnicar. 

A verdade é que a ‘boca maldita’ de Santos não caberia no Brasil conservador de hoje. Imagine um reduto de longas noites agitadas, boates com letreiros luminosos e muito luxo padrão europeu graças à alta concentração de dólares deixados por marinheiros que, enquanto aguardavam o carregamento dos navios, saíam à procura de sexo, bebidas e diversão. Os boêmios, os trabalhadores portuários e os valentões sempre tinham encontro marcado nas casas noturnas e cabarés da região: Casa Blanca, The Fugitive, Samba Danças, Love Story, Chave de Ouro, Night and Day, ABC House e a luxuosíssima El Moroco. Estabelecimentos que, de tão icônicos e importantes, chegaram a receber shows de Ângela Maria e Cauby Peixoto. 

“Até a década de 80, Santos tinha os melhores bares, restaurantes e prostíbulos. Em certo aspecto, a cidade parecia uma Broadway, com letreiros de estabelecimentos em neon, sofisticadas boates frequentadas por gente que tinha muito dinheiro. “Boca bendita” conta essa história! É um livro de entrevistas, pesquisas e memórias, algumas pessoais – que registrei em terceira pessoa para não ter problema”, diverte-se Lopes.

 

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A obra, que faz o santista conhecer a história (nua e crua) da cidade, também traz causos de frequentadores da boca, que se tornaram seus personagens mais ilustres – alguns lendários – como Toninho Navalhada e Nego Orlando. 

“O livro demorou quatro anos para ficar pronto, entre pesquisas, especialmente, da parte iconográfica, e as mais de 30 entrevistas que fiz. Procurei contar desde o início da vida noturna santista (as primeiras casas noturnas surgiram em 1894) até o declínio, quando o início da modernização do Porto e a epidemia de AIDS afastaram os boêmios daquela região. Muita gente chamava de ‘boca maldita’. Para nós – que frequentávamos – aquele local era o paraíso”.

 


Serviço: O lançamento do livro “Boca Bendita” será na terça-feira (19), às 19h, no Restaurante São Paulo (Rua Carlos Afonseca, 4, Gonzaga). Capa: Mauriomar Cid