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Resenha da semana: Se a Rua Beale Falasse

16/03/2019

Confie no amor até o fim. Dois anos após ver Moonlight: Sob a Luz do Luar superar o favorito La La Land, no Oscar de melhor Filme (mesmo com aquela famosa confusão), o brilhante diretor Barry Jenkins apresenta seu mais novo projeto, uma mistura de poesia, racismo e amor com tudo sendo apresentado de forma poética e poderosa. Com apenas seu terceiro longa metragem na carreira, Barry Jenkins se consolida como um diretor com um olhar sensível, com uma estética apurada e com algo a dizer onde impressionou o mundo contando dramas reais com um processo criativo semelhante a um poeta. E poderia apostar que muito em breve, Se a Rua Beale Falasse será adaptado para os teatros.

 

Baseado no célebre romance de James Baldwin, o filme acompanha Tish (Kiki Layne), uma grávida do Harlem, que luta para livrar seu marido de uma acusação criminal injusta e de subtextos racistas a tempo de tê-lo em casa para o nascimento de seu bebê. Assim como fez em seu filme anterior, Jenkins logo de cara já coloca em evidência o lado humano e afetivo de seus personagens, sendo o romance entre seus protagonistas o motor do filme, mas jamais esquecendo seus personagens secundários, que possuem grande valor na trama e abordando também a desigualdade social e as consequências do racismo predominantes em instituições de poder (vide a polícia e o sistema carcerário). Apresentando um escopo maior do que em sua obra anterior, o filme tem altos e baixos devido a essa mudança, que faz por boa parte o filme carecer de foco. O longa é apresentado em flashbacks e pouco a pouco vamos acompanhando uma luta incessante por justiça que, mesmo nunca abandonando a esperança de um final feliz, acaba deixando um gosto amargo na boca. Jenkins tem um excelente controle estético de seu filme e escolhe quadros estilizados e fundos desfocados, com olhares dos atores direto para a câmera e o uso de câmera lenta, que já é sua marca registrada. O roteiro, também escrito pelo diretor e adaptado da obra de James Baldwin, tenta englobar muito mais assuntos do que consegue, apresentando uma estrutura um tanto quanto indecisa. Mesmo apresentando seus personagens principais e suas respectivas famílias de forma eficiente, a trama fica dispersa em subtramas que não levam a lugar algum. Os diálogos são um dos pontos fortes do longa e destaco a longa cena de conversa entre Fonny e seu amigo de longa data Daniel, que relata os horrores do cárcere enquanto Tish prepara o jantar. 

 

A fotografia de James Laxton traz uma bela iluminação e quadros que mais parecem pinturas do que simplesmente filmadas por uma câmera. Mas o elemento mais poderoso do filme é sua trilha sonora, sendo parte importante e acrescentando força a narrativa, sem ser incômoda.

 

O trabalho do elenco é excepcional, e Jenkins tira o melhor de cada um. Kiki Layne enche a tela de ternura e sensibilidade mas o destaque fica com Regina King, que mesmo com pouco tempo de tela, em duas cenas mostra o motivo de ter levado o Oscar. Quando faz um anúncio para a família no primeiro ato do filme e depois quando tem uma conversa com a suposta vítima do crime, mais para o final do filme.

 

Se a Rua Beale Falasse não é perfeito, mas traz uma interessante combinação entre drama e romance que diz muito sobre o poder do amor diante das dificuldades e preconceitos. Também consegue despertar pensamentos sobre nosso papel na sociedade e como podemos buscar, juntos, um mundo mais justo e sem tanta intolerância.

 

Curiosidades: Premiado como Melhor Atriz Coadjuvante (Regina King) e indicado a Roteiro Adaptado e Trilha Sonora Original no Oscar 2019.
 

 

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Foto: Divulgação