Não bastasse a tragédia em si ocorrida em uma escola em Suzano, a cobertura televisiva do caso foi, basicamente, outra tragédia: uma mistura de irresponsabilidade de sensacionalismo, salvo exceções.
É preciso enorme cuidado com esse tipo de pauta. Para quê, por exemplo, colocar no ar imagens de circuito interno mostrando o massacre? Imagine parentes das vítimas se deparando com isso ao ligarem a tevê?
E os assassinos? Como apresentá-los? Sim, porque a espetacularização pode muito bem estimular doentes mentais do outro lado da telinha a fazerem o mesmo.
Por que alguns profissionais simplesmente não respeitam a dor alheia?
O repórter Marcelo Moreira, da Band, protagonizou um dos momentos mais vergonhosos que já presenciei no jornalismo. Ele perseguiu pelas ruas da cidade a mãe de um dos atiradores, Tatiana Taucci, horas depois que ela soube da atrocidade cometida pelo filho. O jornalista/inquisidor a metralhou sem dó com uma saraivada de perguntas, mesmo diante de algumas negativas e de pedidos dela para que não fosse incomodada.
"Por que o Guilherme fez isso?"
"Ele tinha motivo para isso?"
“Você se sente culpada de alguma forma?”
“É importante você falar para defender a honra da sua família”.
“Você quer ajuda, Tatiana? Vamos conversar um pouquinho”.
“Ele é uma criança ainda pra você?”
“Isso poderia ser evitado de que forma?”
"Mostra o seu rosto, bem" – enquanto o cinegrafista, outro sem noção, fazia contorcionismos para tentar uma imagem frontal de Tatiana.
Ainda na Band, a tragédia em Suzano faz a emissora adiar as férias de José Luiz Datena, que começariam justamente no dia do ocorrido.
E o apresentador já chegou anunciando: “Vocês vão ver pela primeira vez na televisão brasileira o momento do ataque insano dos assassinos e suicidas”. Como eu salientei, qual a importância jornalística disso? E no meio da tarde?
Também vi exageros na Record e na Globo, mas a Band passou dos limites.
Eu não tenho estômago pra isso. E imagino que boa parte dos telespectadores também não tenha.
Foto: Reprodução/Band
