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Medicalização da saúde

06/04/2019

Medicalização da saúde é um termo usado para o fenômeno mundial de transformar pequenas dificuldades diárias em problemas de saúde a serem resolvidos pelo uso de medicamentos. Essa condição é muito presente no controle da saúde mental, mas pode ser encontrada também na melhoria da sexualidade, quer seja na perspectiva da performance masculina e feminina, quer seja na “nova estética” exigida para a genitália. Mas também há fórmulas que visam substituir a alimentação natural e balanceada.

 

A sociedade composta por diversos ambientes, como o escolar, o familiar, o social e o do trabalho, dentre outros, busca a normalização de seus membros. Isso significa que as formas desviantes tendem a ser discriminadas e solucionadas. Nas escolas, sem um olhar atento e crítico, parece fácil afirmar que uma criança mais agitada e impulsiva possa sofrer Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade e resolver esse “problema” com o uso de medicação. Mas toda criança tem uma história social e afetiva a ser considerada. E pode ser dela o resultado do comportamento da criança e não de uma falha biológica.

 

A sexualidade também pode ter esse desvio de análise. O ato sexual não pode ser visto como resultado de um único fator, seja ele biológico, afetivo, cultural ou outro. É a sua integração que é válida. Muito motivado por interesses econômicos, tanto a disfunção erétil masculina, quanto as dificuldades sexuais femininas têm sido apresentadas como um comprometimento biológico, exclusivamente. Para, desse modo, ser resolvido pelo uso de medicação específica. Não, não é possível essa abordagem reducionista. 

 

O medicamento pode ajudar dentro de um contexto mais amplo, em uma abordagem holística, integradora. Não se trata de negar o efeito positivo que um produto farmacológico possa trazer, mas alguns problemas precisam de uma abordagem ampliada, não meramente medicalizada. Aos profissionais de saúde cabe orientar a população de que alguns problemas não precisam ser resolvidos com medicamentos, mas pela opção de nova forma de ver os problemas inerentes à vida. E vivê-la com satisfação.

 

A vida humana é carregada de problemas inerentes à sua condição. Ansiedade, tristeza, dor, são situações tratadas como fatores que não podem comprometer a melhoria geral de performance exigida pelo mundo atual, competitivo e tecnicista. Para validar a aceitação pela sociedade, utiliza-se um discurso calcado na ciência, ocultando interesses econômicos. O medicamento pode ajudar, e muito, mas é necessário um uso qualificado.

 

Foto: Shutterstock