Meio Ambiente

Poluição no mar: há esperança se houver mudanças

08/06/2019

Oceanos e mares cobrem mais de 70% do nosso planeta. São eles os grandes produtores de oxigênio através das microalgas oceânicas. Atuam na regularização da temperatura do planeta e interferem na dinâmica atmosférica. A biodiversidade presente ali é equivalente a de ecossistemas terrestres, além de ser uma fonte benéfica dos que procuram lazer e turismo. O oceano nos dá comida, oxigênio, equilíbrio ambiental e beleza. Então por que o prejudicamos cada vez mais?

 

A relação humana com o mar foi pauta de um evento que aconteceu na última segunda-feira (3), no Teatro Guarany, em Santos. O professor Ronaldo Christofoletti, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e um dos organizadores do evento, destacou que a proposta do simpósio foi mostrar que oceano pode ser visto de duas formas “o que damos a ele e o que ele dá para nós”.

 

Olhar o oceano de outro foco é o primeiro ponto. Como forma de alimento, a pesca sustentável é um recurso benéfico tanto para animais marinhos quanto o ser humano. Na prática, ela conduz que espécies mais consumidas como salmão, tilápia e tainha, dividam espaço com outros grupos. O professor explica que, sem a “pressão” em determinados grupos marinhos, mantém-se um equilíbrio e elas voltam a crescer e naturalmente. “A gente explora muito das mesmas espécies, o que já causou problema, e há tantas outras que não usamos, nem consumimos”, explica o professor.

 

Ronaldo ressalta, “o lixo está aí e é necessário falar sobre”. Ainda que existam muitas pessoas mudando, há quem pouco se importa ou até mesmo percebe a gravidade do que está acontecendo. No caso, mais do que isto, deve-se cobrar e acompanhar as políticas públicas que atuam nestes processos.

 

Mar de plástico


Foto: Ecofaxina

 

O que parece inofensivo, na verdade atua em alto risco para a vida do mar e humana. De acordo com a ONU, 80% de todo o lixo marinho é composto por plástico e a estimativa, se continuar assim, é que em 2050 a quantidade do material na água supere a de peixes. O estudo ainda revela que, atualmente, os microplásticos nos oceanos já superam a quantidade de estrelas na galáxia.

 

Em 2018, um estudo coordenado pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos e divulgado no Fórum Mundial da Água, revelou que cerca de 25 milhões de toneladas de resíduos são despejadas por ano nos oceanos, sendo 80% de cidades, devido a má gestão dos resíduos sólidos. Deste número, o Brasil colabora com dois milhões. Sem descarte adequado, os resíduos vão parar em lixões a beira de mares onde aquele lixo segue o seu caminho até os oceanos.

 

Nas praias, outro desafio. Um monitoramento que vem sendo realizado desde 2012 pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, em parceria com o Instituto Socioambiental dos Plásticos, revelou que mais de 95% do lixo encontrado nas praias brasileiras é composto por itens feitos do plástico.

 

Para o professor Ronaldo, reutilizar, reduzir e reciclar atua na prática e na conscientização do descarte correto. Reutilizar opera em usar novamente as embalagens. Potes, por exemplo, podem servir para guardar alimentos ou outros materiais. Reduzir significa consumir menos e optar por aqueles que ofereçam menor potencial de geração de resíduos além de maior durabilidade. Reciclar é transformar o seu material em outros produtos tanto industriais quanto artesanais.

 

Entretanto, não se deve apenas considerar isso como ideal de prevenção. Evitar o consumo em excesso, outro grave problema, também contribuiu para todo o processo.

 

Políticas públicas


Foto: Image Bank

 

A ONU Brasil lançou no ano passado a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável que conclama para que oceanos, mares e recursos marinhos sejam conservados e usados de maneira sustentável. O professor Ronaldo explica  que “as políticas públicas precisam atuar para que essas mensagens cheguem à população, conscientizem, e mais do que isso, sejam colocadas em prática”.

 

Neste sábado (8), Dia Mundial dos Oceanos, acontece no Aquário, às 9h, o 3º Santos pelo Oceano. O objetivo é chamar a atenção para a conservação das praias e do ambiente marinho.

 

No mar, em frente ao ponto de encontro, haverá uma quadra de polo aquático para os praticantes de natação, StandUp, caiaque, canoa e vela. Ao longo de toda a manhã, o público poderá conferir diversas atrações, como a Casa Sustentável, um espaço com 50 metros quadrados para exposição de tecnologias.

 

Haverá ainda teatro, exibição musical com os jovens do Instituto Arte no Dique, distribuição de gibis educativos do Aquário e orientações sobre compostagem com a equipe do Jardim Botânico Chico Mendes.

 

De acordo com o coordenador de Políticas Ambientais da Secretaria de Meio Ambiente de Santos, Marcus Fernandes, a Prefeitura atua em várias frentes divididas em duas formas: educação ambiental e projetos de ação específica do lixo marinho. “Em junho do ano passado, Santos criou o programa de identificação das fontes de resíduos marinhos, que tem como objetivo encontrar soluções para esse descarte que fica no solo a partir da identificação dos resíduos, das fontes poluidoras e do destino desse material”.

 

Na cidade, as atividades são feitas por meio de parques e escolas. O Aquário Municipal por ser o segundo mais visitado do Estado de São Paulo, é aproveitado para difundir a questão dos oceanos com o público. Lá acontece a “pesca fantasma”, projeto estudado pelo cientista Luiz Miguel Casarini. “O aquário possui um tanque sem peixes só com rede, anzol, cesto… isso é o que realmente fica perdido no mar ou deliberadamente abandonado e por isso carrega o nome. A proposta é chocar quem passa por lá”.

 

Há também a fiscalização com o descarte de resíduos nas praias. “Nesse último verão todos os 609 ambulantes (na faixa de areia) foram visitados quatro vezes. O objetivo é orientá-los a fazer corretamente a separação de lixo orgânico do reciclável”.

 

O Recicla Santos é mais uma ação que apresentou resultados de 300% de aumento de lixo reciclável de 2017 para 2018, onde o poder público atua juntamente com a sociedade.“Conseguimos chegar nisso porque houve engajamento da população”. Para o coordenador não há resultados sem mudança de comportamento. “As pessoas precisam começar a ter a consciência de que não dá mais para agir como se fazia alguns anos atrás”.

 

Foto: Isabela Carrari/PMS