Digital Jazz

As incríveis histórias de Luiz Carlos Miele

27/07/2019

A Bossa Nova perdeu em 2015 um de seus maiores patrimônios: Luiz Carlos Miele, artista muito querido, musical, versátil, alegre e talentoso. Um legítimo e completo “showman”, que sabia como poucos contar boas histórias.

 

Sem dúvida, foi um dos maiores produtores musicais deste país, grande apresentador e um incrível contador de histórias. Além de ator, apresentador de TV, dançarino, diretor, cantor e compositor entre outras atividades.

 

Apesar de ter nascido em São Paulo, tinha no coração a alma carioca. E ele sempre brincava dizendo que era carioca durante o dia e paulista durante a noite. 

 

Com 67 anos de carreira, Miele tinha voltado à cena nos últimos anos de vida com força total e desenvolveu simultaneamente vários projetos importantes.

 

Um destes projetos, ele lançou pouco tempo antes de partir pela Bookstart, plataforma de “crowdfunding” e editora, projeto de financiamento coletivo para a publicação da obra “Miele – O Contador de Histórias”.

 

Com 344 páginas, distribuídas em 46 capítulos repletos de passagens importantes da nossa música, o livro é uma agradável reunião de suas grandes experiências. O prefácio é assinado pelo seu grande amigo Lula Vieira.

 

Miele, inclusive tinha participado um pouco antes de falecer, do lançamento do livro e depois dos autógrafos subiu ao palco acompanhado pelo pianista Alfredo Cardim, apresentando seu show musical e muitas piadas. Ali ninguém poderia imaginar que ele estava se despedindo de todos os amigos.

 

A obra é narrada em primeira pessoa e destaco alguns destes capítulos, que ele conta com detalhes passagens importantes da sua própria vida.

 

O capítulo que fala do mítico Beco das Garrafas, ele relata que o primeiro show que ele assistiu foi o do Tamba Trio, com Luiz Eça no piano, Bebeto no contrabaixo e Hélcio Milito na bateria. Depois veio Elis Regina e na sequência o primeiro show que fez ao lado de Ronaldo Bôscoli, com Sérgio Mendes. A dupla Miele & Bôscoli iniciava ali uma das mais importantes parcerias musicais da nossa música brasileira.

 

Já no capítulo onde fala de Elis Regina, uma artista com um talento que ele não se acostumava, ele disparou numa entrevista quando lhe perguntaram quais as três maiores cantoras do Brasil e ele respondeu: “Elis Regina. Acho que a Elis é a primeira, a segunda e a terceira cantora do Brasil”. Na época, esta declaração causou muita polêmica.

 

Imperdíveis também os capítulos que falam de Roberto Carlos, Roberto Menescal, Maysa, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Sarah Vaughan, Wilson Simonal entre outros.

 

Posso garantir que a leitura será muito prazerosa e com diversão garantida. 

 

Miele tinha o dom de contar histórias. E com um grande diferencial, pois ele viveu todas elas como grande protagonista. Miele, era o cara que contava sua vida através das suas histórias.

 

 

No Olho da Rua – “Samba Jazz 40º.”


 

Ouvi a primeira vez o grupo "No Olho da Rua" por indicação do amigo Carlos Alberto Afonso, proprietário da "Toca do Vinicius", local abençoado pelos acordes da Bossa Nova, no coração do bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro.

 

Este CD, totalmente financiado pelo patrocínio dos amigos (o 6º. da carreira do grupo), foi idealizado por Ruy Castro, uma das maiores autoridades da Bossa Nova do planeta, que teve a ideia do CD conceitual e foi o responsável pela escolha do repertório.

 

E como ele bem escreveu na contracapa: "é uma viagem do No Olho da Rua aos anos 60, em que as boates do Beco das Garrafas ferviam a essa temperatura e o samba-jazz era o braço armado da Bossa Nova".

 

E a capa do CD também presta uma homenagem a César Vilela, criador das capas do selo Elenco, que viraram marcas registradas da Bossa Nova.

 

O grupo é formado por Paulo Rego no sax e flauta, Nito Lima no violão e guitarra, Eduardo Henrique no piano, Gustavo Schnaider na bateria e Rodrigo Ferreira no contrabaixo.

 

Destaco os temas "Samba de Rei", "Alegria de Viver", "Quintessência", "Estamos Aí", "Eu e a Brisa" (num duo emocionante de sax e guitarra), "Rio" (apresentado num arranjo muito criativo), "The Red Blouse" e o clássico do jazz "The Blues Walk", revisitado numa levada com muita Bossa.

 

Os caras deram conta do recado e tenho que confessar que este CD tornou-se o meu preferido do grupo.
O No Olho da Rua esteve em Santos no Teatro Guarany, lançando o CD dentro do Rio Santos Bossa Fest 2016, ao lado da cantora Cris Delanno. Show incrível e inesquecível!

 

 

Paulo Rego – “Compor”

O saxofonista, flautista, compositor e arranjador carioca Paulo Rego lançou em 2013 seu primeiro trabalho solo de forma independente, apresentando inspirados arranjos e composições autorais.

 

O instrumentista lidera o grupo "No Olho da Rua", que já tem vários discos lançados e que se destaca principalmente pelas apresentações ao ar livre, sempre muito democráticas, preferencialmente realizadas nas praias de Ipanema, Copacabana e Leblon na cidade do Rio de Janeiro.

 

Gravado nos estúdios do selo Biscoito Fino, o CD traz 10 faixas e contou com o acompanhamento de seus grandes parceiros, com destaque para Eduardo Henrique no piano, Pedro Franco no violão e guitarra, Rodrigo Ferreira no contrabaixo e Xande Figueiredo na bateria, além das participações especiais do "mestre" Guinga no violão, Geraldo Costa no trombone, José Arimatéia no flugelhorn, Julio Merlino no sax tenor. Pedro Bittencourt, Luciano Corrêa no violoncelo e Felipe Ventura no violino.

 

Destaco os temas: "Pra Maria Sorrir", "Café com Guinga" (que contou com a participação do homenageado), "Clube do Edu", "Das Esferas", "Maresia" e a faixa título "Compor".

 

Um CD muito bonito e diversificado pelos ritmos e influências, e que deixa claras as marcas de expressão deste músico que possui uma excelente formação musical.

 

Recentemente Paulo Rego nos presenteou com a sua primeira obra sinfônica, executada pela Orquestra da Escola de Música da UFRJ.