Vida em Dia

Aqui não tem fake news!

03/08/2019

Começo esse espaço voltado para a saúde, beleza e qualidade de vida com uma entrevista fundamental para a manutenção da saúde. O médico infectologista David Uip, de São Paulo, diz que a melhor forma de prevenir doenças ainda é mantendo o calendário de vacinação em dia. “Quando a pessoa deixa de se vacinar não só prejudica a si, mas toda a sociedade porque passa a ser uma transmissoras de doenças em potencial”. O governo alemão, por exemplo, aprovou neste mês a lei que vai multar em até 2,5 mil euros, os pais que não vacinarem seus filhos em idade escolar contra o sarampo, doença, que, inclusive, voltou a assustar os brasileiros. David Uip fala mais a seguir sobre o assunto, que ainda gera polêmica e muitas informações falsas nas redes sociais. 

 

Qual o mecanismo de ação das vacinas?
David Uip –
Todas elas, tanto as feitas com vírus atenuado quanto com produtos proteicos, funcionam ativando o sistema imune, que – após receber a vacina – produz anticorpos específicos que protegem o organismo por tempo variável, de acordo com o tipo de imunização. De qualquer forma é uma proteção habitualmente importante e prolongada.

 

Poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche são só alguns exemplos de doenças que eram praticamente erradicadas. Por que elas estão voltando?
David Uip –
Justamente porque as pessoas não se imunizam. O mais simples é que todas essas vacinas estão disponíveis na rede pública e, portanto, são acessíveis à toda população brasileira. Mas isso depende da responsabilidade de casa um. Vale ressaltar que o efeito em massa é muito importante, ou seja, quanto mais pessoas forem vacinadas, menos serão contaminadas.

 

O sarampo, especificamente, vem se manifestando de forma acentuada entre os brasileiros. Existe algum outro motivo para essa alta contaminação? 

David Uip – A volta do sarampo ocorre pela imigração de países vizinhos e também é decorrente de populações que não se vacinaram. A vacina surgiu na década de 60, mas passou a ser disponibilizada com regularidade no Brasil a partir de 1973. A imensa maioria de pessoas que nasceu antes disso teve sarampo e ficou imunizada pela própria doença. 

 

Conforme os bebês crescem, os pais acabam negligenciando a carteira de vacinação?
David Uip –
Acontece. Mas hoje existem diversos programas de vacinação, que devem ser seguidos por toda a vida. Existe o programa clássico do recém-nascido, que, aliás, no Brasil, é bem completo. Mas também há vacinas específicas para os adolescentes, para os adultos e para- os idosos. Muitas vezes as pessoas esquecem que precisam ser vacinadas ou revacinadas. 

 

O vírus da gripe é um exemplo que requer imunização anual, não é?
David Uip –
Exatamente. Qualquer vírus da gripe é mutável, inclusive o H1N1. Tanto que a vacina é produzida anualmente, pelo menos por enquanto. Há de chegar o momento em que vamos ter uma imunização definitiva para a gripe. As pesquisas estão indo nesta direção. Mas as vacinas da gripe atuais, tanto a trivalente, que é produzida pelo Butantã, quanto a quadrivalente, que é internacional, não oferecem proteção próxima a 100%, mas é o que nós temos disponível hoje. 

 

E a vacina da febre amarela?
David Uip –
A de febre amarela é bem efetiva! Protege quase 100%. O que estamos estimando agora é por quanto tempo de fato a dose fracionada permanece ativa. A vacina complexa, inteira, protege definitivamente. Caiu a história de que a imunidade era por apenas 10 anos. Mas só a literatura vai constatar a durabilidade da fracionada. O que sabemos, por enquanto, é que, pelo menos, por oito anos, a pessoa se mantém protegida.

 

Muita gente ainda tem receio de contrair alguma doença em decorrência da própria vacina. Como você avalia esse custo-benefício?
David Uip –
Não há o que discutir. A melhor forma de prevenção ainda é a vacina. É inadmissível que as pessoas não se vacinem. Na minha opinião, movimento antivacina é antidemocrático e deve ter punição porque envolve não só responsabilidade individual quanto coletiva. Sou totalmente a favor de divulgação e de programas de conscientização sobre a importância das vacinas. Não podemos expor à população a notícias falsas. Não existe um trabalho científico referente a não vacinar as pessoas. Isso é mentira! O calendário de imunização deve ser cumprido desde a maternidade e vale para a vida inteira. 

 

A vacina do herpes zoster é uma que deve ser tomada na terceira idade…
David Uip –
Sim, e é uma vacina importante. Já tem existe disponível, inclusive, em farmácias nos Estados Unidos, que oferece proteção de 99% e deve ser tomada em duas doses. Hoje a recomendação é de que, acima dos 60 anos, os pacientes devem tomar essa vacina.

 

Ainda existe falta de vacinas em algumas regiões do Brasil?
David Uip – Eu entendo que o tema vacinação é importantíssimo e atual. Existem muitas vacinas sendo estudadas no mundo e cabe ao Brasil estar atento as novidades. Mas essa questão da falta de algumas doses me incomoda muito! E isso ainda acontece tanto no ambiente público quanto no privado. É incrível que os laboratórios produtores internacionais não consigam suprir as necessidades de um País como o nosso. Temos um mercado de mais de 200 milhões de pessoas. Existe a necessidade de fato, mas muitas vezes esse mercado não está sendo suprido por falta de encaminhamento adequado pelos laboratórios multinacionais.