Leitura

Jornalista com lúpus escreve livro com companheiro sobre doença que quase a matou

09/08/2019

Em junho de 2015, poucos dias após completar 34 anos, a jornalista e escritora Beth Soares viu a morte de perto. O lúpus, doença autoimune descoberta aos 19 anos, tirou 50% da função de seus rins e a deixou 21 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O médico nefrologista que a acompanhou na crise foi honesto: "não posso garantir que você conseguirá voltar para casa".

 

Lúcida e com visitas diárias de apenas duas horas, Beth passava a maior parte do tempo sozinha. O tédio, a inquietação e os pensamentos deram lugar à vontade de escrever sobre que estava vivendo. Foi no quarto do hospital que nasceu a primeira crônica. 

 

O companheiro Marcus Vinicius Batista, também jornalista e escritor, teve a mesma sensibilidade de utilizar palavras para lidar com a angústia e a incerteza de que tudo voltaria a ficar bem. Quatro anos e 35 crônicas depois, o casal lança no próximo dia 17 de agosto o livro "O Lobo, o Urso e a Cura", primeira obra que escrevem juntos. O prefácio é do médico e hoje amigo Bruno Graçaplena Vieira, que cuida de Beth desde então.

 

Em 216 páginas, o leitor encontrará textos em ordem cronológica, da pré-crise à remissão da doença, sobre personagens que cruzaram essa história e com os mais variados sentimentos: indignação, raiva, tristeza, choro, alívio e até bom humor. O lançamento do livro pela editora Ateliê de Palavras será feito das 15h às 18h, no Saluca Bistrô e Café, na Avenida Almirante Cóchrane, 222, Embaré, Santos. 

Lúpus adormecido

"Tinha quase certeza que ia morrer. Não tenho medo da morte, mas do sofrimento que causaria". Esse foi o sentimento de Beth assim que os longos 21 dias se iniciaram na UTI. Logo, a falta de receio da morte se transformou e a jornalista passou a sentir raiva das experiências que não viveu e dos lugares que tinha deixado de conhecer.

 

Os dias iam passando quando soube que a única forma de adormecer o lúpus, que pode afetar articulações, pele, rins cérebro e outros órgãos, era com quimioterapia. É que nessa doença o sistema imunológico produz anticorpos que atacam o próprio corpo; a quimioterapia enfraqueceria as células de defesa e, consequentemente, melhoria o quadro. Com as sessões, cinco no total, vieram os efeitos adversos, que trouxeram à Beth consciência de rever suas prioridades. 

 

"Sempre tive o sonho de fazer um intercâmbio. Seis meses depois de quase morrer estava embarcando para Londres. Essa é a parte da cura, que falo no livro. Não posso dizer que foi uma experiência ruim, porque sem essa crise minha vida teria continuado como era", garante.

 

Depois do susto, o casal mudou a forma de viver, focando menos nos bens materiais e muito mais nas experiências. "Sempre que queremos fazer alguma coisa que parece difícil no primeiro momento pensamos que sempre daremos um jeito, que não dá para deixar a oportunidade passar. Isso vale tanto para uma viagem como para arrumar tempo para tomar café com um amigo", diz Marcus.

 

O tratamento de Beth durou até 2018 e hoje ela faz acompanhamento a cada seis meses, porque o lúpus não tem cura. Sua maior luta é mantê-lo adormecido, se possível, para sempre.

Serviço
Lançamento do livro "O Lobo, o Urso e a Cura"
Data: 17 de agosto de 2019 (sábado)
Horário: das 15h às 18h
Preço do livro: R$ 30
Local: Saluca Bistrô e Café (Avenida Almirante Cóchrane, 222, Embaré, Santos).