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Resenha da semana: Entre Facas e Segredos

14/12/2019

Detalhes. Desde o primeiro minuto de Entre Facas e Segredos, fica evidente o cuidado e atenção que o cineasta Rian Johnson dá aos detalhes em seu novo filme. Sua câmera percorre a mansão do escritor Harlan Thrombey dando uma enorme atenção aos objetos cênicos e isso ajuda a construir o imaginário do público acerca da personalidade daquele patriarca e força o espectador a montar em suas mentes seu próprio quebra cabeça para resolver o grande mistério que percorre todo o longa. O diretor, logo de cara, nos leva a crer que boa parte dos familiares tem motivos para ter assassinado o patriarca da família, inserindo constantemente flashbacks que contradizem algumas coisas que são verbalizadas e que acabam incitando nossa expectativa, criando uma narrativa muito prazerosa e divertida de se acompanhar. E diversão é uma das diversas características deste longa, que é uma montanha russa de revelações, com um roteiro intricado e um elenco espetacular que, com o perdão do trocadilho, está afiadíssimo. 

 

No longa, após comemorar 85 anos de idade, o famoso escritor de histórias policiais Harlan Thrombey (Christopher Plummer) é encontrado morto dentro de sua propriedade. Logo, o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) é contratado para investigar o caso e descobre que, entre os funcionários misteriosos e a família conflituosa de Harlan, todos podem ser considerados suspeitos do crime. O filme é dirigido por Rian Johnson, mais conhecido por ter dirigido o último Star Wars, mas seu talento já foi comprovado muito atrás, com obras mais intimistas como A Ponta de Um Crime e Looper: Assassinos do Futuro. Aqui, o diretor homenageia a dama do crime Agatha Christie e os filmes clássicos de mistério, trazendo uma linguagem mais moderna ao gênero e não subestimando nossa inteligência com uma trama cheia de reviravoltas que não vai deixar você piscar até o final do filme. Demonstrando todo seu estilo, que está presente em toda sua filmografia, o diretor comanda o longa com extrema energia e criativos ângulos de câmera, sempre surpreendendo o público, que acredita que esteja sendo levado por um caminho para logo depois ter seu tapete puxado com uma nova reviravolta. Tratando todo o clima do filme com bastante humor, o diretor usa os próprios clichês do gêneros para quebrar qualquer expectativa e, eventualmente, mudar o tom ou a perspectiva do filme.

 

O roteiro, que também é escrito por Johnson, constrói a trama em um cenário de criação de Ágatha Christie: um enorme casarão com muitos livros, extensas escadarias e portas secretas que, apesar de proporcionar o velho clichê, tem grande função para sua narrativa. O texto é engenhoso também ao explorar a variedade de personalidades de seus personagens, que tem suas motivações e arcos muito bem definidos e foram escolhidos a dedo pelo diretor que fez questão de ter rostos conhecidos do grande público para que não confundisse quem seria o autor ou autora do crime. 

É inevitável falar desse filme e não citar seu maior chamariz: o estelar elenco. Todos, sem exceção, estão formidáveis em seus respectivos papéis, dando personalidade a cada um dos personagens mas vale destacar o trabalho de Ana De Armas, como a cuidadora do patriarca e que atua sempre com um olhar doce e inocente e Daniel Craig, que está sendo bastante elogiado pela crítica por ter deixado aquele ar britânico de lado e encarnado o detetive entre o cômico e o clichê, que é um grande acerto e realmente está excelente no papel. 

Entre Facas e Segredos mostra como se faz um grande filme de mistério. Tem uma trama inteligente e repleta de reviravoltas convincentes, um elenco primoroso, uma direção que inova o gênero e diverte o público como há tempos um filme não fazia e se consolida como uma das grandes surpresas de 2019.

Curiosidade: Segundo o diretor Rian Johnson, o personagem de Daniel Craig é uma "versão norte-americana de Poirot". Hercule Poirot era o famoso detetive criado por Agatha Christie e protagonista de muitos dos seus livros.

 

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