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Resenha da semana: Adoráveis Mulheres

11/01/2020

Há 150 anos atrás, Louisa May Alcott escreveu um dos maiores clássicos da literatura norte americana, em uma narrativa autobiográfica na qual retrata o cotidiano das irmãs Alcott, assim como suas dores, aspirações e alegrias, durante um certo período. Mas o que será que encanta tanto o público, ao ponto desta ser a sexta versão levada ao cinema, desde 1933? Este novo filme chega no melhor momento possível para acontecer, uma vez que toda a Hollywood passa por significativas mudanças de igualdade e inclusão e ninguém melhor que a diretora Greta Gerwig para ser essa representante. Poucas cineastas conseguem captar tão bem o íntimo e protagonismo feminino de forma consciente e necessária quanto ela.
Neste novo longa, as irmãs Jo (Saoirse Ronan), Beth (Eliza Scanlen), Meg (Emma Watson) e Amy (Florence Pugh) amadurecem na virada da adolescência para a vida adulta enquanto os Estados Unidos atravessam a Guerra Civil. Com personalidades completamente diferentes, elas enfrentam os desafios de crescer unidas pelo amor que nutrem umas pelas outras. A diretora Greta Gerwig, que dirige e roteiriza este longa, conduz o filme de forma primorosa, com um texto inteligente onde é capaz de sinalizar todos os conflitos que surgem na transição da fase da adolescência para a adulta. Questões como amor, sexualidade e a quebra de expectativas são abordados de forma natural pela diretora. Mostrando mais maturidade em sua direção, Greta cria belíssimos planos sequência, pontuais câmeras lentas e ótimas composições com uma parte técnica impecável. O design de produção do filme se concentra no figurino, fotografia e direção de arte para mostrar as diversas fases e períodos dos personagens. 

 

O roteiro de Gerwig, desperdiça a oportunidade de se aprofundar mais o triângulo amoroso entre os personagens e o ritmo do filme tem alguns desequilíbrios, porém é conciso e bastante impactante com frases e discursos marcantes que certamente vão gerar debates sobre o verdadeiro papel da mulher na sociedade e como a maioria dos homens tentam sobrepô-las. 

 

Com um elenco tão talentoso e competente à disposição, é muito difícil apontar quem está melhor em cena, uma vez que todos, sem exceção, estão excelentes. A química entre as quatro irmãs é natural e magnética, mas vale destacar o trabalho de Saoirse Ronan, que é a grande estrela do filme e com mais tempo em tela e Florence Pugh, atriz que ganhou minha atenção após estrelar o excelente Midsommar (que tem crítica aqui no Jornal). 

 

A adaptação de Greta Gerwig para Adoráveis Mulheres consegue levantar questões importantes sobre os lugares da mulher na sociedade naquele tempo, e que lamentavelmente, ainda são pertinentes nos dias atuais. Temas como maternidade, carreira, independência financeira e educação são levantados naturalmente pelo roteiro, sem parecer forçado. Além de contar com uma direção madura de Greta e um elenco impecável, esta nova versão atualiza, ironiza e rompe com alguns estereótipos sobre a representação feminina nos romances de época. Adoráveis Mulheres é uma doce e afetuosa carta de amor à todas as "adoráveis mulheres" do mundo.

 

Curiosidades: Adoráveis Mulheres é a sexta versão para o cinema do livro de Louisa May Alcott.

 

 

Foto Divulgação/Sony Pictures