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Resenha da semana: O Preço da Verdade

15/02/2020

Steven Soderbergh dirigiu, em 2000, Erin Brockovich, um longa espetacular (aqui fica a dica se você não assistiu), sobre uma mulher que descobre vários casos arquivados envolvendo contaminação de água em uma pequena cidade dos Estados Unidos e,  que acaba obtendo 333 milhões de dólares de indenização da empresa Pacific Gas and Eletric Company, fato verídico que ocorreu em 1993. O Preço da Verdade chega agora aos cinemas de Santos, trazendo uma história bastante similar ao longa de 2000, por vezes soando bastante genérico pelo tema abordado, mas que, mesmo assim, me impactou bastante por além de honrar as vítimas do terrível episódio, perpetua toda a culpa e nojeira do ocorrido, nas mãos daqueles que o cometeram.

O filme nos apresenta a Rob Bilott, um advogado de defesa ambiental que acaba de se tornar sócio de uma agência conceituada, especialista em trabalhar junto a empresas do setor químico. Ao ser procurado por dois agricultores de sua cidade-natal, ele inicia uma investigação particular sobre a possível intoxicação do solo e do rio que passa por um sítio, devido a dejetos deixados pela DuPont, uma das empresas mais poderosas da indústria química. A confirmação de que a DuPont não só contaminou, mas também tinha conhecimento prévio das consequências que seus produtos traziam para a saúde de funcionários e clientes, dá início a um longo processo nos tribunais americanos, onde Bilott precisa lutar não apenas pelos seus ideais, mas também contra um sistema que favorece o corporativismo empresarial em nome do lucro. A direção é de Todd Haynes, que consegue transformar uma história que poderia se tornar maçante e burocrática para o público, em um poderoso drama instigante e revelador. Apesar de ser uma trama verdadeiramente genuína, o diretor consegue flertar por muitos momentos com o terror, tornando cada vez mais seu desenrolar mais envolvente e emocionante, mergulhando o espectador em uma lama sórdida de negligência e canalhice sem tamanho. A direção de Haynes traz uma sensibilidade muito grande e que, não disfarça em nenhum momento a tensão de anos de luta contra uma empresa que aparenta estar acima de qualquer julgamento.

O roteiro é bastante eficiente em apresentar sua proposta desde os minutos iniciais, utilizando de alguns artifícios emocionais para aprofundar o espectador na vida pessoal do protagonista, que gradativamente aumenta a intensidade e os perigos que ele passará a medida que começa a seguir seus princípios e bater de frente contra homens poderosos e grandes corporações.

O Preço da Verdade nos apresenta, desde o início, uma fotografia escura , repleta de cores cinzas e árvores sem folhas, dando uma clara impressão de uma cidade contaminada e totalmente poluída. Outro fator que me chamou a atenção, foi a demonstração de avanço temporal , com os figurinos, corte de cabelo, carros e cidades que são gradativamente modernizadas, demonstrando o tempo e demora na conclusão do caso.

Mark Ruffalo tem sua melhor atuação desde Foxcatcher, onde constantemente muda sua postura e entonação de voz, mostrando com veracidade toda sua preocupação e dor com o próximo. Outro destaque, vai para Anne Hathaway, que mesmo mal aproveitada, consegue complexidade e lealdade a seu marido ao passo que Tim Robbins entrega mais uma ótima atuação, como o chefe do protagonista.

O Preço da Verdade é um potente, inteligente, relevante e atual filme que traz uma impactante e poderosa mensagem, que fará o espectador sair do cinema  com um grande sentimento de revolta e impotência contra as grandes corporações. Mesmo não tendo inventado a roda, o filme consegue ter sucesso ao que se propõe, mesmo não se arriscando muito.

Curiosidades: Baseado em uma história real e livremente inspirado no artigo Dark Waters, de Nathaniel Rich.

Confira aqui a programação dos cinemas de Santos e região.

Foto: divulgação