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Ministros coadjuvantes roubaram a cena na reunião

25/05/2020

MARCO SANTANA

Volta e meia, aparece um filme em que o ator coadjuvante tem uma atuação tão impressiona e, literalmente, “rouba a cena” do protagonista. Muita gente não percebeu, mas foi o que os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Paulo Guedes (Economia e Planejamento) fizeram na fatídica reunião ministerial de 22 de abril.

 

De Bolsonaro, não podia se esperar outra coisa: autoritarismo, despreparo, destempero, palavrões, confusão mental, aridez cognitiva. Foi ele mesmo, o tiozão bêbado no fim da festa. Já o vídeo desnuda a sinceridade e falta de escrúpulos de Ricardo Salles e Paulo Guedes.

 

Boiada de maldades

“Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De Iphan, de Ministério da Agricultura, de Ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação”, disse.

 

Mais claro impossível: Salles quer atropelar leis para beneficiar grileiros, garimpeiros, madeireiros e incorporadores inescrupulosos que querem destruir o patrimônio nacional (recursos naturais ou históricos). O que ele confessa é crime: foi o que levou Geddel Vieira Lima para a cadeia, ao pressionar o então ministro da Cultura para “flexibilizar” uma exigência que atrapalhava seus interesses particulares em Salvador.

 

Infelizmente, muita gente ainda não entende a importância de proteger recursos naturais que ainda restam no Brasil. Acham que é “coisa de Ongueiro”. Permitir que um madeireiro, grileiro ou garimpeiro explore predatoriamente uma área é o mesmo que deixar um gatuno qualquer furtar a fiação inteira de uma rede elétrica para vender como ferro velho. É um verdadeiro desperdício permitir que o potencial presente em reservas florestais (farmacêutico, cosmético, biotecnológico etc) seja destruído de modo tão estúpido —e é exatamente isso que Salles pretende.

 

Horror aos pequenos

Já Guedes, mais uma vez, demonstrou seu horror a pobre. Mas a grande revelação é que, para decepção dos citados, ele inclui neste parcela de brasileiros que ele repugna os… pequenos empresários.

“Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”, afirmou. O sincericídio de Guedes apenas traduz em palavras o que ele já faz na prática: ao mesmo tempo em que anuncia a liberação de R$ 1,2 trilhão para os grandes bancos, o governo coloca enormes dificuldades para que micro e pequenos empreendedores tenham acesso a crédito. Por exemplo: apenas 4% do total disponibilizado pelo BNDES para ajudar pequenos empresários a pagar a folha de pagamento foram realmente contratados.

 

Paulo Guedes também odeia uma categoria que ele considera de ricos e os trata, literalmente, como inimigos: os funcionários públicos.

 

“Todo mundo está achando que, tão distraídos, abraçaram a gente, enrolaram com a gente. Nós já botamos a granada no bolso do inimigo – dois anos sem aumento de salário", comemorou, estufando o peito de orgulho, o congelamento dos vencimentos de servidores públicos.

 

Boa parte de policiais, que sabidamente apoiam incondicionalmente Bolsonaro e seu “posto Ypiranga”, Paulo Guedes, deveria lembrar que eles mesmos são servidores públicos, assim como os professores de seus filhos e os profissionais que o atendem na unidade de saúde. Em qual bolso Quando Guedes colocou a tal granada?

 

E é assim, de sincericídio em sincericídio, que o governo Bolsonaro vai tocando a boiada, aquela parcela da população que releva a bagunça e acredita nas “boas intenções” do presidente, seus filhos e sua equipe. Intenções que, uma a uma, vão virando alvo da polícia e da Justiça. E, muito em breve, do Congresso Nacional e seu Centrão.