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Pesquisa internacional investiga a relação entre a obesidade e a Covid-19

04/09/2020

A probabilidade de uma pessoa obesa desenvolver a forma grave da COVID-19 é alta independentemente de idade, sexo, etnia e da existência de comorbidades como diabetes, hipertensão, doença cardíaca ou pulmonar, afirmaram pesquisadores brasileiros em artigo publicado na revista Obesity Research & Clinical Practice.

 

O artigo de revisão sistemática da literatura científica com meta-análise incluiu dados de nove estudos clínicos, que juntos relatam a evolução de 6.577 pacientes infectados pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) em cinco países. Os autores concluíram que a obesidade em si é um fator que favorece a progressão rápida da doença e aumenta significativamente o risco de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e morte. A pesquisa foi apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

 

“Vários fatores contribuem para o agravamento da infecção no organismo obeso. Um deles é a capacidade limitada de produzir interferons [classe de proteínas secretada por células de defesa e essencial para inibir a replicação viral] e anticorpos. Além disso, o tecido adiposo funciona como um reservatório para o vírus, mantendo-o mais tempo no organismo”, explica Silvia Sales-Peres, professora da Universidade de São Paulo (USP) em Bauru e coordenadora do estudo.

 

Carga viral

A carga viral potencialmente maior não é, segundo a pesquisadora, o único problema dos pacientes com índice de massa corporal (IMC) elevado. Estudos recentes indicam que a inflamação crônica de baixo grau típica da obesidade – causada pelo aumento excessivo das células adiposas – faz com que a tempestade de citocinas inflamatórias desencadeada pelo SARS-CoV-2 seja ainda mais lesiva ao pulmão.

 

“Os obesos já costumam apresentar a função respiratória prejudicada, pois o tecido adiposo comprime o diafragma e impede a movimentação normal do órgão. Há, portanto, diversos fatores concorrentes que tornam esses pacientes mais predispostos a depender de ventilação mecânica e outros cuidados intensivos caso contraiam a COVID-19. Nos estudos que analisamos, 9,4% dos obesos internados em UTI evoluíram para óbito”, conta Sales-Peres.

 

Escala de risco

Reconhecido como o padrão internacional para diagnóstico de desnutrição e obesidade, o IMC é calculado dividindo o peso (em quilos) do paciente pela altura ao quadrado (em metros). De modo geral, para adultos, resultados a partir de 25 são interpretados como sobrepeso – caso de quase 60% dos brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde. Valores de IMC iguais ou maiores do que 30 são classificados como obesidade, algo observado em aproximadamente 20% da população do país.

 

Os percentuais foram mensurados por meio do sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel).

 

“A maior suscetibilidade ao novo coronavírus não aparece ao acaso, quando um determinado número é atingido na tabela do IMC. Indivíduos com sobrepeso já podem apresentar alteração na produção de anticorpos e algum grau de inflamação crônica que favorecem a progressão da doença. Nossa análise mostrou também que o risco associado à obesidade se torna ainda maior caso o indivíduo seja fumante ou tenha comorbidades como diabetes, hipertensão ou doença pulmonar”, comenta Sales-Peres.

 

De acordo com a pesquisadora, estudos como este são importantes tanto para alertar os pacientes sobre a necessidade de se proteger contra o vírus como para ajudar o serviço público a se preparar para a potencial demanda por cuidado intensivo.

 

“Quando começamos a pesquisa, em abril, ainda não estava tão claro que a obesidade seria considerada um fator de risco importante para a COVID-19”, conta.

 

O artigo (em inglês) pode ser lido aqui.