Roteiros Nacionais

Chapada das Mesas, um tesouro escondido no sul do Maranhão

10/02/2018
Chapada das Mesas, um tesouro escondido no sul do Maranhão | Jornal da Orla

Visitar o Parque Nacional da Chapada das Mesas, no sul do Maranhão, é constatar ao vivo e em cores como é gigante, belo e surpreendente este país. Encravado no coração do Brasil, já encostado ao estado do Tocantins, na terra vermelha e na paisagem rústica do cerrado, o mais impactante no parque são as imensas formações rochosas de arenito conhecidas como mesas ou mesetas devido às formas que apresentam.  São centenas delas, pontilhando o cenário a perder de vista na imensidão de um mundo desconhecido no Brasil central.  Pura magia para olhos acostumados a visões urbanas.

O destino ainda não é tão conhecido como os Lençóis Maranhenses, a cereja do bolo do turismo no estado, mas tem um fantástico potencial para o ecoturismo. A porta de entrada para o parque é a histórica Carolina, uma pequena cidade a 800 km da capital, São Luís, com estrutura hoteleira, bons restaurantes e agências de turismo receptivo preparadas para conduzir o turista pelos mistérios do cerrado.

Os gigantescos platôs são o primeiro impacto na visita ao parque, que ocupa 160 mil hectares e abrange os municípios de Carolina, Riachão, Estreito e Imperatriz. Dentro da unidade de preservação foram catalogadas 92 mesas, mas estima-se que passem de 500 em toda a área da Chapada. 

O deslumbramento cresce à medida que o visitante vai se familiarizando com o lugar e descobrindo seus segredos: seja visitando seus atrativos naturais, com muitas e incríveis cachoeiras de águas cristalinas, rios, fauna e flora típicas do cerrado; apreciando os mais de 200 prédios históricos pelas ruas de Carolina; percorrendo a área rural e conhecendo a vida simples dos sertanejos ou experimentando a saborosa culinária regional, à base de carne de sol, farinha d´água, galinha caipira, tambaqui, pirarucu e outros peixes tirados do Rio Tocantins, onipresente na região. Tudo é motivo para encantamento.  

Potencial a ser explorado


O parque é um santuário ecológico criado em 2005 para salvar a natureza do impiedoso avanço da pecuária e da soja, que são a força motriz da economia na região. Felizmente, neste caso a natureza levou a melhor e hoje, de olho no crescimento do ecoturismo (segundo o Ministério do Turismo, o turismo de natureza é a tendência para 2018), a Prefeitura de Carolina, empresários e as agências de turismo receptivo estão apostando neste novo filão econômico, investindo na divulgação do destino com foco na preservação ambiental e no turismo sustentável. 

O prefeito de Carolina, Erivelto Teixeira Neve, acredita no segmento como fonte de emprego e renda para a população. “Nossa grande empresa é a natureza”, diz. O desafio é agregar valor ao produto, explorando outras vertentes como vivência em comunidades do sertão, visita a casas de farinha e produção de doces artesanais, trilhas interpretativas, contemplação da fauna e flora. ‘Em 2017 recebemos 66.6 mil hóspedes”, conta o secretário municipal de Turismo, Leonardus Borges, animado com as novas possibilidades que se abrem.

Marcelo Assub Amaral, diretor da agência de receptivo Vereda  Adventure, é um dos maiores defensores da idéia. Paulista, ele se apaixonou primeiro pelos Lençóis Maranhenses, onde conheceu a esposa e sócia, Valéria, que é de Santo André e passava férias por lá. O casal se apaixonou e, depois, caiu de encantos por Carolina, onde fixou residência. Agora, o empenho é  desenvolver o ecoturismo com a perspectiva do respeito à natureza.

Montanhas, mesetas, cachoeiras, rios …


A Chapada das Mesas é uma sucessão de surpresas; a cada dia novos caminhos vão sendo desvendados. Além do magnífico conjunto de curiosas formações rochosas, há centenas de cachoeiras, piscinas naturais, cânions, grutas, nascentes e outras fantásticas criações da natureza. N entorno do parque o espetáculo continua, com muita aventura por trilhas que conduzem a cachoeiras e mirantes, atrações off-road, praias e passeios fluviais. Somente em Carolina já foram catalogadas mais de 100 cachoeiras e 400 nascentes e, por isso, a cidade tem o apelido de “Paraíso das Águas”.

Carolina é a base para explorar outras atrações da região, como Riachão, com lagos de cor azul turquesa; Tasso Fragoso, com suas pinturas rupestres; e a vizinha Filadélfia, já do outro lado do rio Tocantins, que oferece praias de rio e belas paisagens.


São muitas as opções de roteiro na região. Para transitar na área do parque o ideal é usar veículo 4×4 ou encaixar-se num pacote que inclua hospedagem e passeios. Em muitos deles a presença de um guia experiente é fundamental. Confira alguns considerados imperdíveis: 

Mirante da Chapada das Mesas – É um parque que explora o turismo ecológico e contemplativo e abriga uma enorme serra, cujo topo, a 400 metros de altura, é alcançado por trilhas. Do alto pode ser vista a exuberante vegetação do cerrado e ter contato direto com pés de bacuri, araçá e mais de três dezenas de plantas medicinais. O local é um convite inesquecível para assistir o espetáculo do nascer do dia e do surgimento da lua, que anuncia o anoitecer. 

 

Cachoeira de São Romão e Cachoeira da Prata – Ambas ficam no rio Farinha, afluente do Tocantins, dentro da área do parque nacional, e é preciso percorrer uma estrada de terra vermelha, bem acidentada, por umas duas horas em veículo 4×4. Pelo caminho, uma ou outra casa de sertanejo, pés de babaçu, orquídeas nativas … Uma aventura e tanto, mas o esforço vale a pena. Suas duas espetaculares e majestosas quedas, tanto pelo volume quanto pela força da água. A cachoeira da Prata leva o nome por causa dos reflexos do sol que deixam suas águas metalizadas. São Romão é mais volumosa ainda e tem uma prainha na beira do rio, onde é possível tomar banho e se aproximar da queda d´água em um passeio de caiaque. 

Morro do Chapéu – É a mais emblemática meseta e o ponto mais alto da Chapada. Diz a lenda que o morro era o principal local dos ritos indígenas no passado. O trekking até o Morro do Chapéu é uma subida de 365m em rocha arenítica e, portanto, exige preparo físico e habilidade dos praticantes. 

Cachoeiras de Itapecuru – Também conhecidas como cachoeiras gêmeas. Lá, há infraestrutura para o visitante passar a o dia curtindo as águas que despencam de duas lindas quedas, formando um imenso lago onde é possível também andar de caiaque. Fica no povoado de São João das Cachoeiras, a 30 km do centro de Carolina.

Balneário Encontro das Águas – Experiência que une natureza, com banhos e atividades em trilha interpretativa, e a hospitalidade típica do sertanejo. O projeto foi idealizado pelo casal Benedito e Maria de Jesus, que sabe como ninguém preparar os pratos mais tradicionais da região, como a galinha caipira, que é criada na propriedade.

Balneário Queda D’água, Cachoeira do Dodô e Aldeia do Leão – O primeiro é onde a barragem de uma antiga hidrelétrica se transformou em piscina. Já a Cachoeira do Dodô, apesar de ser uma das menores, é também uma das mais queridas da Chapada. A Aldeia do Leão convida ao banho refrescante em piscinas naturais, acompanhado de petiscos da culinária regional. 

Portal da Chapada – O atrativo mais fotografado da Chapada é um recorte natural no alto de um dos paredões, que lembra o mapa do estado de Tocantins. É preciso percorrer um caminho arenoso, porém curto, até o portal. Cada trecho é uma parada para foto. Dali se descortina a paisagem da Chapada, com suas mesetas, morros e o rio Tocantins definindo o horizonte. Fica a 20 km da cidade, na direção de Imperatriz.

 

Complexo Turístico Pedra Caída – A 36 km do centro de Carolina, o complexo tem ares de resort e a melhor infraestrutura da região, com uma enorme área destinada ao turismo de aventura, piscinas naturais e artificiais, toboáguas, tirolesas, arvorismo, teleférico, chalés, apartamentos e restaurante. São nada menos que 25 quedas d’água, sendo que a principal delas é a Cachoeira do Santuário, um dos passeios mais emocionantes do roteiro. Escondida no fundo de um cânion e protegida por altas paredes de arenito, numa espécie de gruta com uma abertura no topo, a visão da queda d´água de 46 metros é arrebatadora e indescritível, algo que só a visão humana pode captar.

Refúgio Ecológico Serra Torre da Lua – Refúgio para animais silvestres em seus extensos campos cerrados, matas de galeria, encostas íngremes, com diversas nascentes de rios perenes.  Para quem busca o contato puro com a natureza.  Ideal para trilhas interpretativas, escaladas, caminhadas, banho de rios e cachoeiras.

Parque Terra D´Água – A reserva ecológica ocupa uma área de 50 hectares que abriga a biodiversidade existente no cerrado. Ali, o engenheiro José Emídio Albuquerque e Silva – inspirado no pai, o seresteiro Pedro, e na mãe, a bordadeira Naide – criou trilhas poéticas e artísticas, com painéis de poesias instalados sob a copa de pés de bacuri, a árvore símbolo do cerrado.

Estância Ecológica Vereda Bonita – Além de trilhas e práticas esportivas, o visitante tem aulas de educação ambiental com foco na preservação dos recursos naturais e sustentabilidade, pode remar em um braço do rio Tocantins, tomar banho de cachoeira e experimentar a saborosa comida preparada em fogão a lenha que é servida no local.

Carolina, uma agradável surpresa no meio do sertão


Com largas avenidas, casario baixo e frondosas mangueiras que enchem o chão com seus frutos, Carolina é uma grata surpresa no sertão maranhense, no coração do Brasil. A parte mais histórica fica nas proximidades do rio Tocantins. Aquele mesmo dos livros de escola.

Registros rupestres encontrados no morro das figuras revelam existência de comunidades pré-históricas na região. Ainda hoje se encontram desenhos gravados nos paredões naturais e em entradas de grutas, rochas e nos trechos encachoeirados dos rios. Mas a cidade tal como é começou a surgir à beira do rio a partir do século 18, com sua história ligada à ocupação de fazendas de gado e à navegação fluvial. O nome é em homenagem a princesa, que nunca pisou por lá.

Surpreendentemente, o isolamento e a próspera economia da pecuária formaram o caldo ideal para alimentar o passado de efervescência cultural e artística. No Museu Histórico de Carolina, o diretor Hélio Ney Noleto conta com didatismo e muito entusiasmo a história da cidade. “Carolina era pólo de produção de música, artes plásticas, escritores, chegamos a ter três jornais”, orgulha-se.

Em Carolina foi construída a primeira hidrelétrica do Norte do Brasil, a de Itapucuru, em 1939, que serviu até 1960. Dos anos 30 até 70 do século passado, hidroaviões plainavam nas águas do rio Tocantins até o aeroporto mantido pela Aeronáutica, fazendo transporte de cargas e pessoas.

A partir dos anos 50, a avião privada ganhou força com o transporte de produtos em monomotores. Como as estradas eram precárias, as pessoas utilizavam as pequenas aeronaves em viagens para cidades vizinhas, garimpos e fazendas da região.  “Por meio do Tocantins, a população conheceu o avião antes de conhecer o automóvel”, conta Hélio Noleto.

Outra curiosidade: o Paraíso das Águas foi descoberto por acaso pela Petrobrás, que ao furar o solo à procura de petróleo, descobriu um líquido ainda mais precioso e essencial à vida. Pensa que acabou? Por incrível que pareça, a Coluna Prestes se hospedou em Carolina em sua peregrinação pelo interior do país, em 1925. 

 

Vida de sertanejo


A visita ao Parque Nacional da Serra das Mesas proporciona não só o mergulho no coração deste país gigante por natureza como permite ter experiências com um Brasil autêntico, sem maquiagem, José Dorica é um homem franzino de 69 anos, pele castigada pelo sol, sem dentes na boca, simples e simpático. Ele vive no sertão, onde planta mandioca brava, com a qual faz farinha d´água, deliciosa, mas que é preciso cuidado aos mastigar seus grãos duros. Nas férias tem a ajuda do neto, Caíque, de 13 anos, que mora na cidade. 

Tudo é muito rudimentar, assim como a vida de outros tantos sertanejos espalhados pela região do parque. Não há luz elétrica nem água encanada. “A comida tem que fazer para o dia”, responde Dorica ao ser questionado se consegue conservar alimento. O chão de terra da casa simples está impecavelmente limpo, o que faz supor a presença feminina no local. Engano nosso. “Não tenho mais mulher, ela já foi embora, faz tempo”, diz o sertanejo, indicando com tristeza sua viuvez.

A mandioca brava é só para farinha d´água. O alimento é vendido na cidade e nas redondezas a R$ 10 o prato (equivalente a dois litros). Ele tem um gerador, mas não é suficiente. Dorme com o anoitecer, despertar com o amanhecer. “Não aprendi para ir trabalhar na cidade, meu emprego é na roça”, diz.

Ritinha também é um tipo miúdo, aliás, como muitos dos moradores de Carolina. Foi gari por anos e, quando perdeu o emprego, não desanimou. “Encerraram o contrato com a Prefeitura, mas eu não tenho medo de trabalho, não”. Cozinheira de mão cheia, foi trabalhar na Estância Ecológica Vereda Bonita, onde prepara deliciosas refeições no fogão a lenha. Usa como ingredientes o que a terra e a água oferecem: tambaqui, farinha, pequi, carne de sal para fazer a ‘Maria Isabel’, espécie de risoto de arroz com carne de sol.

Marinês, 47 anos, é outra sertaneja que vive com a família em um sítio no meio do nada, dentro da área do parque. São seis filhos, três netos, a mãe, o marido. Como alimento, cria galinhas, patos, bois e planta arroz, feijão, milho.  Fome passa longe dali, mas as condições de moradia são rústicas e precárias, já que não há banheiro, luz elétrica, água encanada e o acesso a serviços básicos, como de saúde, é dificultado pela estrada esburacada de terra vermelha que corta a mata por dezenas de quilômetros. Mas Marinês não reclama; para ela, dentro de sua simplicidade e do que conhece, a vida segue tranqüila. 

A onça habita o imaginário popular no sertão. E a realidade também. Welligton, guia turístico nativo de 30 anos de idade, conta que quando criança, lá que 9 anos de idade, ia pela mata com o irmão a caminho da escola, quando se deparou com uma onça. Até hoje a memória do bicho lhe assusta. O felino, “uma onça feita” segundo as palavras que usou para definir um animal adulto, deve ter se assustado também, pois fugiu antes que eles subissem na árvore.

 

Quando ir, onde ficar, onde comer, quem leva

Onde se hospedar
Carolina possui cerca de 2 mil leitos, a maioria em pousadas e hotéis simples, onde o ar condicionado é item indispensável. Confira as dicas: 

Pousada do Lajes – www.pousadadolajes, tel. (99) 35312452 ou (99) 981220270

Hotel Rilton – www.hotelrilton.com, tel (99) 35312824

New Center Hotel – www.newcenterhotel.com.br, tel (99) 35312875 e (99) 991945571

Rocha´s Pousada – [email protected], tel. 99-35313864, 981356316 e 981883000

Pousada Filhos da Água – avenida Getulio Vargas 1084, tel (99) 3531-2060

Onde comer

Os principais atrativos da Chapada mantêm restaurantes próprios para atender os visitantes. Em Carolina, o pólo gastronômico fica no miolinho da cidade, em torno da Praça José Alcides de Carvalho, onde acontece a badalação e restaurantes e quiosques põem mesas na calçada. 

Pizzaria Tio Pepe – Especializada em pizzas e grelhados. Praça José Alcides de Carvalho, 236.

Espaço Gourmet – O cardápio é baseado em saborosas massas. Em algumas noites tem música ao vivo. Praça José Alcides de Carvalho. 

Mocotozin – Fica em uma próxima à praça principal. Serve comida regional, como a saborosa Maria Isabel (arroz com carne de sol picada bem miudinha) e uma deliciosa lingüiça caseira. Rua Justiniano Coelho, 567.

Quem leva
Para se embrenhar no parque e na área de entorno e conhecer os atrativos essenciais o ideal é usar como transporte um veículo 4×4 e ter o acompanhamento de  guia autorizado. Veja onde contratar o serviço:

Cia do Cerrado Ecoturismo – Primeira empresa de ecoturismo da Chapada das Mesas com conhecimento de fauna, flora e cultura local. [email protected], (99) 35313222 e (99) 981220317.

Vereda Adventure – Voltada para práticas de turismo sustentável, operando na Chapada das Mesas, Lençóis Maranhenses, Rota das Emoções e Jalapão. [email protected], (99) 98115-4463

Torre da Lua Ecoturismo  www.torredalua.com.br, [email protected], (99) 35312166, 981695190 e 991553003

Zeca Tur Turismo agenciazecatur.com.br, [email protected], (99) 3531-2059, 98124-8644, 99167-9902 (WhatsApp)

Guia de Turismo Ecológico Renilton – (99) 92127277, whatsapp

 

Quando ir
A região é quente o ano inteiro, mas de novembro a abril é o chamado inverno, a época mais propícia para as chuvas, quando as cachoeiras têm volumes mais elevados de água. Já de maio a outubro chove pouco, é a temporada de “seca” na Chapada.

 

Passaredo tem vôo diário


O meio mais rápido e prático de chegar à Chapada das Mesas é de avião. A Passaredo Linhas Aéreas tem vôo diário de São Paulo para Araguaína, no Tocantins, que fica a 110 km de Carolina (é preciso atravessar o rio Tocantins de balsa, em Filadélfia, que fica em frente a Carolina). O vôo faz escalas em Ribeirão Preto, Goiânia e Palmas. Decola sempre às 7h45, em aeronaves ATR-72, chegando a Araguaína por volta das 13h. As estradas na região são boas, com asfalto novo e muito trânsito de caminhão, pois trata-se de um pólo agrícola.
 

Confira galeria de fotos da Chapada das Mesas.

 

A jornalista Mirian Ribeiro viajou a convite da Passaredo Linhas Aéreas e da Secretaria de Turismo de Carolina.