Comportamento

Triste é viver na solidão

13/07/2019
Triste é viver na solidão | Jornal da Orla

Um nó no peito, sensação de abandono, incompreensão, deslocamento, incômodo. A solidão é muito mais do que permanecer sozinho num espaço determinado, por pouco ou muito tempo. É um estado de espírito que evidencia uma situação nada agradável para quem a vive e pode indicar problemas muito mais sérios.

 

Evidente que não se trata de um fenômeno novo, mas a sensação de estar sozinho se acentua na atualidade, principalmente em áreas urbanas, e ainda mais com as pressões das redes sociais e seu mundo de aparências.

 

No entanto, há quem garanta viver bem sem o contato com semelhantes de sua espécie. Para estes, seu universo particular (seu refúgio domiciliar, livros, discos, filmes, animais de estimação) são mais do que suficientes para garantir o bem-estar. É a chamada solitude, que muitos consideram a mais ampla expressão de liberdade, na qual a pessoa se isola por opção.

 

Mas o que preocupa são justamente os casos de solidão, um ciclo de isolamento em forma de espiral no qual a pessoa se afunda cada vez mais. 

 

Doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo, a psicóloga Gisela Monteiro fala sobre as consequências da solidão, como identificar que uma pessoa é solitária e o que fazer para evitar que se chegue a esta situação. 

 

Jornal da Orla – O que é, por definição, solidão? 
Gisela Monteiro –
É o sentimento relacionado a isolamento social, a não ter ninguém por perto, não ter com quem contar. É uma palavra com certa conotação negativa, de que algo está errado, de falta.

 

Jornal da Orla – Qual a fronteira entre ‘estar sozinho’ ou ‘ser solitário’?
Gisela Monteiro- Você pode estar sozinho e não se sentir solitário. O sentimento surge quando a pessoa gostaria de ter uma companhia e não tem. Por dificuldade de fazer amigos, estar longe de seu lugar de origem, entre outros motivos.

 

Jornal da Orla – Muitas pessoas acreditam ser possível ficarem sozinhas e serem felizes, é o que chamam de solitude. Mas isso realmente é possível? 
Gisela Monteiro –
A palavra solitude é usada com um sentido mais positivo, de alguém que está só, mas se sente bem. Sim, é perfeitamente possível. Penso que é um sinal de boa saúde mental. Estar bem consigo, sentir que é capaz que realizar suas atividades, de estar no mundo sem precisar estar sempre acompanhado é um indício de bom autoconhecimento e independência.

 

Jornal da Orla – Como a pessoa pode identificar, ela mesma, que está ficando muito tempo sozinha e isso está sendo prejudicial?
Gisela Monteiro –
A quantidade de tempo não é a melhor a indicação para a percepção de algo estar errado. Entendo que os sentimentos de desamparo e incompreensão são mais balizadores de algum prejuízo, de certo isolamento patológico. Ter o que se chama de rede de apoio social, amigos e/ou parentes com quem contar é bastante importante já que o homem é um ser social por natureza.

 

Jornal da Orla – Quais os sinais que amigos e parentes podem perceber em uma pessoa que está sofrendo de solidão?
Gisela Monteiro –
Penso que os principais sinais de sofrimento são as mudanças de comportamento, quando começam alterações de sono, padrão alimentar ou mesmo frequência dos contatos sociais. O principal é que as pessoas que sofrem por qualquer motivo peçam ajuda, que manifestem sua dor. Por vezes quem está a volta não percebe ou percebe quando um quadro mais grave já está instalado.

 

Jornal da Orla – O que fazer para não sofrer de solidão?
Gisela Monteiro –
O autoconhecimento é o principal caminho. Quando você sente que é boa companhia pra si mesmo significa um bom nível de integração da personalidade. Não quer dizer que você se considera perfeito, completo. Pelo contrário, significa conhecer as próprias limitações e imperfeições e aprender a conviver com elas! Nossa incompletude é um fato. A saúde mental não está em buscar no outro sua complementação, em estar com alguém por necessidade, mas em estar com o outro porque gosta e quer!

 

10 dicas para combater a solidão

O filósofo e escritor Fabiano de Abreu acredita que é possível combater a solidão com a adoção de algumas medidas.

 

1 – Frequente lugares públicos
Isolar-se e permanecer só não salva ninguém da solidão. Ambientes públicos aumentam as oportunidades de conhecer pessoas. Esteja aberto a isso. Ser negativo só atrai coisas negativas e afasta pessoas positivas.

 

2 – Desligue-se das redes sociais por um instante
Apesar de atraírem milhares de pessoas e permitiro o contato com milhares de amigos virtuais, as redes sociais podem trazer solidão e depressão. A ideia de ter amigos nas redes sociais é uma ideia falsa da realidade. Redes sociais aumentam a sensação de solidão, pois invertem a realidade.

 

3 – Seja positivo
Drible os pensamentos negativos. Seja positivo! A forma positiva de ver a vida afasta os sentimentos de solidão e depressão. Assim, evite o contato com quem só vê os aspectos negativos das situações —as chamadas pessoas tóxicas.

 

4 – Tenha planos futuros
Projetos e ações ocupam a mente para que não pense na solidão. Mas não faça disso a única opção, pois quando der por si o tempo passou e está sozinho. Lembre-se de que tudo na vida deve ser moderado.

 

5 – Animais de estimação
Um dos melhores meios para combater a solidão. Animais de estimação, principalmente os que interagem, são ótimas companhias, combatem a solidão e distraem.

 

6 – Não confunda um sentimento momentâneo com a realidade
A solidão é momentânea. Não faça disso uma realidade permanente para não se afundar na solidão por um tempo maior.

 

7 – Não se isolar
A vontade de se isolar como consequência da solidão é comum, mas pode ser perigosa. Nestes momentos, o melhor é procurar um familiar ou amigo com quem se sinta à vontade para desabafar.

 

8 – Seja ouvinte
Mostre-se participativo. Ouça mais e fale menos e conquistará a sua roda de amigos. Muito cuidado com o egocentrismo, que afasta as pessoas.

 

9 – Elogie, não critique
Não menospreze nem julgue as pessoas. Para opinar, é preciso procurar o conhecimento pleno sobre o assunto. Caso contrário, caímos em descrédito e sofremos sentimentos negativos. Todos gostam de elogios, mas se a crítica for imprescindível (até para o criticado se corrigir) ela deve ser feita de forma suave e racional. Afinal, ninguém gosta de receber críticas.

 

10 – Procure um psicólogo
Caso a solidão esteja a transformar-se em depressão, procure a ajuda de um profissional. Um psicólogo poderá ajudar e ser um amigo para tirá-lo da solidão.