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Perdemos a decência?

14/03/2020
Perdemos a decência? | Jornal da Orla

Que o Congresso Nacional tem decepcionado os brasileiros não chega a ser novidade. Os parlamentares, com poucas exceções, usam o mandato em benefício pessoal ou de seus grupos, deixando em segundo plano os interesses da Nação. Mas ao derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro sobre a proposta de ampliar o auxílio pago a idosos e deficientes de baixa renda, conhecido como BPC, o Congresso adotou uma posição positiva. Estranhamente, ao acertar, provocou protestos de governistas e da grande mídia.

É possível que os parlamentares tenham adotado essa posição em retaliação ao governo Bolsonaro, que mantém relação de atrito constante com o Congresso, mas o resultado final é que a medida vai beneficiar os cidadãos mais desprotegidos na escala social. Por que, então, a enxurrada de críticas?

O argumento é o de que a situação fiscal do país não permite, não há onde cortar, e, portanto, seria uma irresponsabilidade garantir um salário mínimo para um número maior de idosos carentes e deficientes. Um conhecido comentarista de rádio chegou a afirmar que a decisão do Congresso seria “um crime de lesa pátria”. Ah, Brasil, chegamos a esse ponto. A uma completa inversão de valores, onde a vida humana pouco vale, principalmente a dos mais pobres e deserdados.

Não há dinheiro? Estão brincando. Os salários milionários pagos as elites do funcionalismo, as viagens de jatinhos da FAB – só Rodrigo Maia, presidente da Câmara, fez 250 em um ano -, as mordomias e privilégios nos três poderes consomem bilhões de reais, mas a culpa é sempre dos mais pobres. Até quando vai continuar esse deboche, esse escárnio que tem provocado a revolta de parcela significativa da sociedade?

O fato é que no Brasil privilégios são malandramente chamados de “direitos adquiridos” e, portanto, não podem ser suspensos. Está na Constituição, dizem, com a esperteza de sempre. A Casa Grande precisa manter a senzala em seu lugar. Dessa maneira é possível entender que qualquer iniciativa para minimizar o sofrimento dos miseráveis seja classificada de “crime de lesa pátria”.

Francamente, deveria haver limites para a falta de decência.