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Entenda o teste rápido para Covid-19

04/04/2020
Entenda o teste rápido para Covid-19 | Jornal da Orla

A Organização Mundial de Saúde (OMS) solicitou que países façam exames em massa nas pessoas para saber quem já entrou em contato com a Covid-19. Aqui no Brasil, o chamado teste rápido é baseado em anticorpos, que são habitualmente fabricados depois de alguns dias de contato com o vírus. No entanto, no Brasil vai ser difícil cumprir essa orientação global.

"O exame só é rápido por causa da entrega do resultado. E serve para se testar contingentes populacionais escolhidos. Na Coreia, por exemplo, ele foi feito de forma genérica, ou seja, as pessoas foram abordadas quando saíam do trabalho, no metrô, nas ruas…", explica o infectologista Ricardo Leite Hayden, de Santos, ressaltando que lá eles usaram o teste mais preciso, que é o RT-PCR. "Eles têm a tecnologia apropriada para isso". 

Trata-se de um exame molecular capaz de detectar o material genético do vírus numa amostra de secreção nasal ou da garganta, feita com um coletor que se assemelha a um cotonete. No entanto, ele só pode ser realizado na fase aguda da doença, ou seja, do primeiro ao oitavo dia após o aparecimento dos sintomas. 

Já os testes rápidos, segundo Hayden, são os que detectam a presença de anticorpos e requerem um pouco mais de tempo. "É interessante aplicá-los em determinados segmentos populacionais. Por exemplo, é válido testar todas as pessoas que trabalham em um determinado hospital. Desta forma, é possível remanejar os profissionais que sabidamente já tiveram contato com o vírus e, portanto, desenvolveram anticorpos, para setores onde o risco é maior".

Exames buscam anticorpos específicos
Os testes buscam dois tipos de anticorpos: o IgM, que é rapidamente desenvolvido na fase inicial ou aguda da doença, e o IgG, que substituem o IgM e são chamados de anticorpos de memória, ou seja, indicam contato prévio com o vírus e imunidade. 

Com isso, teremos a oportunidade de avaliar as pessoas que já estiveram em contato com o vírus ou que ainda estão tendo contato com ele, na medida que conseguimos isolar IgM positivo ou IgG negativo ou em ascensão. São feitos a partir de uma gota de sangue e faz com que se descubra se o indivíduo está em transição entre o estado clínico e o de convalescença.  "Já quem tem só IgG possivelmente já está no estado de convalescença ou melhora clínica", ressalta o especialista. 

Ricardo Hayden destaca que o teste possibilita que se faça uma triagem das pessoas, ou seja, se feito em massa, podemos liberar as pessoas que estavam em quarentena para sair e levar uma vida praticamente normal. Principalmente aquelas que tiveram contato com o vírus e não desenvolveram sintomas e nem sabiam disso, já que não tiveram o quadro clínico". 

 

Baixa eficácia
A concordância desse teste preliminar é baixa. "Ele é concordante em 40% das pessoas", alerta o infectologista. Pode dar falso negativo, mas tem 98% de acerto nos casos positivos. "Creio que, com o tempo, vá melhorando a sensibilidade desses exames e, portanto, a sua capacidade de detecção". 

Inicialmente o teste rápido deve, de acordo com o médico, ser indicado para a triagens seletivas, principalmente na área da saúde. "Quem deve fazer são os médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas e o pessoal de apoio ou de laboratórios. No entanto, muita gente vai acabar indo fazer esse teste sem muita necessidade”, afirma.

Hayden diz que a testagem vai servir para profissionais de saúde e para identificação de pacientes. "Isso irá facilitar a triagem interna, já que uma pessoa com gripe convencional pode, eventualmente, se internar em uma enfermaria Covid-19 e acabar contraindo as duas doenças. Já para auto demanda eu acho péssimo, por enquanto!". 

O infectologista vai mais adiante e conta que, em breve, virá um novo teste de um laboratório americano, de resposta mais rápida e com concordância mais alta. "Por outro lado, se tivéssemos recursos disponíveis, o ideal seria que toda a população brasileira fosse testada.  Essa triagem antecipada mudaria o panorama. Esse seria o cenário ideal, mas não é o caso". 

 

Fique em casa!
Ricardo Hayden ressalta que a questão de sair de casa é inflexível! "Quem quer se arriscar sai de casa. Quem quer se proteger fica em casa", resume. E mais: "Caso seja absolutamente imprescindível sair de casa, todo mundo deve usar máscaras. Assim não temos 'culpados e nem inocentes'. Todo mundo se protege de todo mundo".

 

 

Foto: MS via Fotos Públicas