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Resenha da semana: Milagre na Cela 7

11/04/2020
Resenha da semana: Milagre na Cela 7 | Jornal da Orla

Quando a palavra milagre vem à mente, logo pensamos em algo que envolva o sobrenatural, ou até mesmo o divino. Milagre soa algo quase como impossível, e quando acontecem consideramos algo do além para justificá-lo. Um dos maiores pontos positivos deste longa, é a capacidade de captar com extrema sensibilidade, um ato de bondade vindo de onde menos esperamos. E, levando em conta o momento que estamos vivendo, por si só já se configura como um milagre. Milagre na Cela 7 é de uma sensibilidade ímpar, e sua forma poética com que é desenvolvido vai aos poucos quebrando todas as barreiras que o público possa ter, o que nos aproxima daquele universo e acaba gerando uma empatia muito grande por seu protagonista. O longa peca pela atmosfera inocente e sensível em toda a sua duração, quando poderia nos inserir em um longa mais pesado e com consequências maiores, o que a temática exigia. Mas aí é minha opinião. Enfim, preparem os lenços pois sairão desidratados ao final da sessão, pois este filme é feito para chorar.

No longa, separado de sua filha por ser acusado de um crime que não cometeu, um homem com deficiência intelectual precisa provar sua inocência ao ser preso pela morte da filha de um comandante. Ele passa a contar com a ajuda de seus companheiros de cela e de quem também está do outro lado das grades. Muito da sensibilidade do longa, vem da visão do diretor, o turco Mehmet Ada Öztekin. Toda a transição na cadeia e as dificuldades que o protagonista enfrenta no início, são desenvolvidas de forma natural, sem recorrer a exageros. A câmera do diretor permanece interessada em cada rosto: a dureza quebrada pela bondade e muitas mágoas transformadas em cura. Conduzir uma narrativa através da emoção pode fazer com que o filme caia no melodrama e, mesmo emocionando o espectador, torna-se apelativo camuflando a falta de história  com sentimentalismo barato, mas aqui não é o caso. O diretor constrói seu filme em cima da empatia do público com seu protagonista e sua filha , e nos conduz exatamente pelos caminhos estabelecidos pelo roteiro. 

Mesmo sendo um remake de um filme coreano, este longa tem identidade própria e seu roteiro foi adaptado para a realidade turca, mostrando as ambientações simples do interior do país, as dificuldades do seu povo e o pavor da guerra que estabelece uma autêntica base onde provoca ainda mais impacto no público. A direção do diretor, acostumado a dirigir filmes com temática religiosa (confesso que nunca vi nenhum de seus filmes), faz a diferença na construção da emoção, seja através da montagem ou de seus belos planos longos (meus preferidos), como a sequencia dos personagens se comunicando através das paredes do presídio. 

O roteiro tem algumas pitadas de outros filmes deste mesmo gênero, seja na trilha sonora emotiva, no desenvolvimento de seus personagens ou até na nas referências centrais do filme, sobre uma pessoa inocente sendo presa por algo que não fez. O que me incomodou foi a questão religiosa, onde o roteiro pega conceitos, ideologias e algumas passagens bíblicas, apenas para sustentar a sua tese de que pessoas boas e puras sofrem injustamente. Se por um lado força a barra em fazer o público chorar o tempo todo, por outro entrega uma história gentil e carregada de aprendizados. 

O elenco está muito bem, com a pequena Nisa Sofya roubando a cena com as interações com seu pai, mostrando uma grande sintonia na relação entre pai e filha. Mas o grande destaque fica com o jovem Aras Bulut Iynemli, com uma bela atuação como o protagonista com problemas mentais. Sua expressão corporal demonstra a entrega do ator ao papel e que cria uma imediata conexão com o público.

Mesmo não sendo inesquecível e por exagerar na tentativa de fazer chorar, Milagre na Cela 7 é uma história que aborda de maneira sensível o lado bom do ser humano e que será sempre bem vinda em tempos difíceis que estamos vivendo.

Curiosidades: Baseado no filme coreano de 2013 "Miracle in cell No. 7".