Vida em Dia

Apoio emocional aos profissionais da saúde

11/04/2020
Apoio emocional aos profissionais da saúde | Jornal da Orla

Com o objetivo de conectar profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus foi criada a Rede de Apoio Psicológico, que surgiu com a união e mobilização de cinco psicólogos: Camila Munhoz, Evelyse Stefoni de Freitas Clausse, Luciana Lafraia, Jonas Boni e Marina Bragante.

Além de os profissionais começarem a se deparar com relatos de angústia e medo de trabalhadores da saúde, pesquisa da Escola de Medicina de Zhejiang, na China, mostrou que muitos profissionais que estão na linha de frente do combate ao Coronavírus passaram a ter sintomas de depressão, ansiedade, insônia e estresse. 

Segundo o estudo, esses profissionais têm probabilidade até 95% maior de desenvolver depressão e podem precisar de suporte e intervenções psicológicas. “Numa situação de crise, o profissional perde as balizas do cotidiano dele. E num atendimento pontual, a gente pode tentar recuperar algumas delas. Isso ajuda que a pessoa volte a se movimentar no meio caótico em que está trabalhando”, explica a psicóloga Camila Munhoz, membro do grupo Faces do traumático do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. “É como se o indivíduo tivesse que recuperar algo dentro dentro de si, que é fundamental para poder continuar. E é isso que visa a escuta pontual do psicólogo”, completa Camila, uma das idealizadoras da plataforma. 

Mais de 3800 psicólogos já se inscreveram e mais de quatrocentas conexões foram realizadas na primeira semana de testes. “Nossa expectativa é de que a ferramenta chegue nos quatro cantos do país e apoie o maior número possível de agentes da saúde”. A ferramenta também contou com o apoio da equipe do Mapa Acolhimento, uma rede de solidariedade que conecta mulheres que sofreram violência baseada no gênero com psicólogas e advogadas volunt&aacu te;rias. Para Ana El Kadri, articuladora do Mapa, a formação de redes de solidariedade a partir do voluntariado tem sido uma maneira de unir pessoas com um objetivo social comum. “O Mapa do Acolhimento é baseado nisso e tem provocado grande impacto na vida das mulheres, desde 2016. Por isso, sabemos da importância deste tipo de suporte para pessoas que estão em vulnerabilidade. Neste momento de crise, achamos fundamental apoiar uma iniciativa como essas”.

Segundo os psicólogos, as angústias e preocupações dos agentes de saúde são singulares. “Apesar de toda sociedade estar passando por dificuldades semelhantes, tais profissionais passam por conflitos pessoais e éticos de modo acentuado. Poder escutá-los em suas angústias tão legítimas faz com que se sintam amparados”, alerta Jonas Boni, psicanalista e doutor em psicologia pela Universidade de São Paulo.

A psicóloga Evelyse Stefoni de Freitas Clausse, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e uma das idealizadoras, complementa: “Além de vivenciarem todas as mudanças sociais que estão acontecendo, o medo do contágio e a angústia de serem vetores do vírus faz com que emocionalmente experimentem uma posição de grande desamparo”.

Segundo ela, enquanto alguns podem (e devem) ficar em casa, eles precisam ir trabalhar. “Muitas vezes sem contar com uma rede de apoio pessoal e tendo que tomar decisões cotidianas que se tornam difíceis, como com quem deixar os filhos ou quem cuidará dos pais. Além de pensarem se precisarão eventualmente fazer escolhas difíceis em relação aos próprios pacientes e o quanto isso trará de sofrimento para eles. Há uma clara oscilação entre o heroísmo e a impotência”, diz a psicanalista. 

No entanto, o recado principal deveria ser de que tudo vai passar, segundo os especialistas. “Por pior que esteja sendo o momento vivido, ele passa. Mais certamente deixará marcas. Não passaremos impunes a essa pandemia.  Momentos traumáticos congelam o tempo, precisamos resgatar essa dimensão, haverá um amanhã”, desvenda Camila.

 

O diferencial da plataforma

Os psicólogos da plataforma contam também com os apoios da psiquiatra Gabriela Viegas Stump, do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, coordenadora da psiquiatria da infância e adolescência do núcleo de especialidades pediátricas e coordenadora científica da pós de saúde mental do Hospital Sírio Libanês, e da infectologista Ângela Carvalho Freitas, do HCFMUSP. A plataforma já está funcionando e disponível para o Brasil todo. Os profissionais da sa&u acute;de que desejarem apoio qualificado podem se inscrever por meio do site https://www.rededeapoiopsicologico.org.br Dúvidas e problemas podem ser encaminhados para [email protected].