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Sorria, mesmo de máscara

27/06/2020
Sorria, mesmo de máscara | Jornal da Orla

Esta nova obrigatoriedade, dentre outras coisas, mudou a nossa forma de comunicação. Mudou ou nos lembrou de como deveria ser?

 

Não só diretamente falando, como em casos de pessoas que tenham alguma espécie de deficiência auditiva e usam a linguagem labial para compreender melhor o que está sendo dito, mas para todos nós foi preciso reaprender a conversar. 

 

Percebemos que era preciso perceber mais o outro. Foi preciso levantar a cabeça, manter o queixo erguido e principalmente, olhar nos olhos.

 

Quem estuda comunicação diz que a mensagem vai para onde nossa voz vai. E que nossa voz vai para onde nossos olhos estão direcionados. Para onde estávamos mandando tudo o que falávamos até então?

 

De repente percebemos que era preciso direcionar nossos olhos na direção daqueles com quem conversávamos.

 

Sob esse novo ponto de vista, pudemos enxergar como as pessoas se expressam com o corpo todo ao falar. 

 

São nossas expressões que nos humanizam. George Lucas usou capacetes para cobrir os rostos dos integrantes das tropas do Império, em Star Wars, para torná-los menos humanos.

 

Curioso como ele arqueia as sobrancelhas quando está ansioso. Como ela pisca mais rápido contando algo entusiasmada. Não é preciso nem ver a boca movimentar para entender que ele ficou bravo. 

 

Percebemos com as bocas tampadas que existem palavras que são ditas no silêncio do olhar. 

 

No lacrimejar do pai, você entende a saudade que ele estava do filho. No olhar vermelho e doído, você sente o luto de quem chorou o adeus. Na angústia dos olhos inquietos, você compreende o que é aguardar uma importante notícia. No estreitar dos olhos, você sorri junto. E nas marcas profundas de noites mal dormidas, você encontra o agradecimento por quem tem trabalhado incansavelmente. 

 

É quando nos tampam a boca que demonstramos nossa indignação, nossa insatisfação, nossa esperança.

 

A gente está acostumado a fazer barulho. É assim desde que chegamos gritando a este mundo. Mas é olhando nos olhos da mãe, ao amamentar, que compreendemos a comunicação não verbal.

 

E com o passar do tempo vamos desaprendendo a nos comunicar desta forma. É mais importante apenas falar.

 

Falar sem parar, sem respirar. Falar sem pensar. Falar sem ouvir. Falar sem notar o outro.

 

Esquecemos que era preciso direcionar para onde a fala ia. E principalmente, perceber o que ela causava. 

 

À primeira vista, usar as máscaras é algo que incomoda. Mas se olharmos um pouco mais de perto, quem sabe não seja um momento para reaprendermos a prestar atenção no que os olhos dizem. Reaprendermos a cruzar nossos olhares para entendermos o que o outro realmente está querendo nos falar.

 

Pode parecer loucura, mas precisamos enxergar algo positivo no meio dessa névoa de incertezas. E talvez não tenhamos outra chance de corrigir isto.

 

Vai que tudo muda de novo em um piscar de olhos.