Criar e Construir

É permitido sonhar. Mas…

27/06/2020
É permitido sonhar. Mas… | Jornal da Orla

Na coluna anterior, comentei sobre os novos veículos voadores que já estão em testes práticos e até em pré-venda. Não são apenas conceitos demonstrados em salões do automóvel, sobre aerodinâmica, conforto, automação a bordo – maravilhosos, mas com o veículo parado no estande. São experiências práticas, com gente voando neles ou controlando-os à distância, como se fossem grandes drones. Podemos sonhar e até devemos, para nos prepararmos, pois a nova realidade já bate à porta… literalmente.

Agora, coloquei um “Mas…” no final do título. Serve para alertar-nos quanto às mudanças que isso implica em nossas vidas. Pois essa mesma realidade está batendo à porta… da varanda do apartamento, lá no oitavo ou décimo-quinto andares. Sem porteiro para avisar antes e fazer um controle mínimo de acesso. Pense nisso.

Anos atrás, quando surgiram os primeiros drones, eu já alertava para as questões de privacidade, pois um deles poderia entrar voando pela casa e filmar tudo o que visse. Armamentos voadores teleguiados já são usados pelos Estados Unidos para caçar seus inimigos no Afeganistão, no Oriente Médio… Os altos muros de certas residências já não são referência de privacidade, como vemos por certas filmagens nos noticiários. Quem quiser se proteger terá de fechar também o espaço aéreo… Eis um desafio para arquitetos, construtores… e o motivo de eu estar abordando o assunto aqui.

Mas não pense que, só por não ser milionário, você, leitor ou leitora, está dispensado de pensar sobre a questão. Drones que falhem em pleno voo, por qualquer motivo, podem cair sobre a cabeça de qualquer um. Imagine um táxi-aéreo controlado à distância, como também está sendo testado no emirado de Dubai, que despenque lá de cima, com passageiros e tudo. Bem, lamento informar que, em testes de 2017 com a moto voadora, que citei na coluna passada, uma delas teve uma falha e caiu, com o piloto a bordo. O filme está na Internet, felizmente não houve feridos.

Prime – Anos atrás, a empresa Amazon foi pioneira em testes com drones para entrega de pequenos objetos. Dispensaria os serviços de entregas tradicionais e agilizaria os serviços. Em 7/12/2016, seu serviço Prime Air, num teste no Reino Unido, fez a entrega do produto ao cliente 13 minutos após o pedido ter sido feito – incluindo o tempo de retirada do produto do estoque, embalagem e faturamento. Vejam o vídeo.

Não se iludam: o cliente morava a 700 metros do ponto de partida desse drone – um entregador a pé chegaria mais rápido. O trajeto não tinha embaraços, foi numa área rural, tinha gente em casa esperando pela encomenda, num espaçoso quintal.

Mas é assim mesmo que a coisa começa. A Amazon promete em vídeo que, da próxima vez que o cachorrão comer o tênis de sua filha pouco antes de ela ir para a escola, em menos de 4 minutos você terá em casa um novo par de calçados… e um ossinho para o seu amigo canino. O serviço comercial pode começar em 31/8/2020, se a empresa resolver certos conflitos internos.

Desafio – Mas… mas… voltemos ao comentário anterior, após este intervalo comercial gratuito. Quando milhares de aparelhos, dos mais diversos tipos, tamanhos e usos, estiverem circulando pelos céus, os engenheiros e urbanistas terão um desafio a mais: como lidar com tudo isso e encontrar soluções ou estabelecer normas como as atuais leis de trânsito. E definir quem no prédio receberá as encomendas: o porteiro, no telhado?

Sonhar é muito bom, e os sonhos costumam se realizar mais depressa do que conseguimos imaginar. Porém, os pesadelos também existem: cabe a cada um de nós a construção de formas criativas de evitá-los.
 

Entregas aéreas são uma nova realidade. Mas… quem está preparado?
Foto: divulgação Amazon.com

 

Drone de entregas da Amazon tem seus primeiros resultados
Foto: divulgação Amazon.com

 


Acidente com moto voadora durante teste prático em Dubai: sem vítimas
Imagem: vídeo de divulgação do teste pela empresa Hoversurf