Significados do Judaísmo

O Livro das Lamentações

30/07/2020
O Livro das Lamentações | Jornal da Orla

O Livro das Lamentações – conhecido em hebraico como Megillat Eicha – foi escrito pelo profeta Jeremias em resposta à calamidade que se abateu sobre a Judéia em 586 AEC, quando o Império Babilônico destruiu Jerusalém e exilou seus habitantes.

No entanto, Eicha não é um relato histórico dos eventos.  O livro lamenta a dor de uma nação e evoca as nuances teológicas que acompanham a tentativa de lidar com uma catástrofe.

Jeremias passou anos advertindo seu povo para que eles se arrependessem e parassem de insistir que o templo os protegeria.  Para seu desgosto, os judeus honravam o templo mais em espetáculo do que em espírito.

Mas os judeus o ignoraram, até o aprisionaram e, para sua agonia insuportável, ele se mostrou certo.  O templo foi destruído, o povo devastado, a nação dispersada e ele foi testemunha.

A primeira abordagem em Eicha se concentra em obter uma admissão de culpabilidade dos judeus. Os capítulos lutam com o sofrimento – mas também lutam com o pecado, com a culpa e a vergonha que acompanham uma confissão.  No primeiro capítulo, Jerusalém reconhece a justiça de Deus e declara que a destruição ocorreu “por causa de todos os meus pecados”.

Entretanto, outros capítulos descrevem a incompreensão dos humanos que lutam com o papel ativo de Deus no sofrimento deles.  Se os capítulos periféricos do livro projetam alguma medida de compreensão, esses capítulos refletem perplexidade e indignação.

O Livro de Eicha é atemporal.

Embora tenha sido composto após o final da primeira era do Templo, os Sábios do Midrash o acham cheio de alusões à destruição do segundo Templo, mais de 500 anos depois.  Isso não é um anacronismo, porque a história judaica é um continuum.

Quando Jeremias chora, nós choramos com ele, porque – se formos pensativos e perspicazes – podemos ver toda a história judaica nas lamentações de Eicá.

Este é o desafio de Tisha B’av.  Podemos perceber que este não é apenas um dia de lágrimas, mas de desafio e esperança?

 O livro de Eichah chama Tisha B’av de “um dia de encontro judaico com Deus.

Dentro  da turbulência circundante, o sofredor pode encontrar tranquilidade em seu ser mais íntimo.  Os seres humanos têm a capacidade de combater o ataque de forças hostis que rodopiam em torno de nós, aproveitando a esperança e a fé que estão em seu cerne.  Dessa forma, Eicha tece um retrato magnífico dos recursos e resiliência que estão profundamente dentro da alma humana.