Positividade

Sobre Comunicação

13/08/2020
Sobre Comunicação | Jornal da Orla

Todos precisamos de pessoas a nossa volta. Criar vínculos afetivos, compartilhar nossa felicidade e receber apoio. A coletividade nos forma enquanto indivíduos e nos fortalece.

 

A base para qualquer conexão real dentro de um relacionamento é uma comunicação clara e compassiva, que gere laços de confiança. Eliminando os ruídos, principalmente os internos, as conversas mentais, os auto julgamentos e críticas.  

 

Não é só sobre saber usar as palavras certas e o tom de voz para atingir alguém, mas sim estar presente e disponível para ouvir o outro de maneira aberta, sendo capaz de escutar inclusive o que não está sendo dito em palavras.

 

Ser ouvido na essência nos leva não só a uma melhor compreensão de nós mesmos, como ativa processos de cura pessoais. Quando estamos presentes em uma conversa, podemos aproveitar os estímulos recebidos dos outros como um caminho de auto percepção. Por que estou reagindo de tal forma a esse assunto? Por que uma palavra me ativou esse sentimento?

 

Diz-se que o ideal seria que vivêssemos em estado de meditação. Ao escovar os dentes, meu foco de atenção seria o ato de escovar os dentes. E em uma conversa, meu foco de atenção seria aquele com quem estou me comunicando. Pode parecer óbvio, mas nós costumamos ficar uma grande parte do nosso tempo, divagando entre um pensamento e outro. Sem estarmos sequer a par do que se passa na nossa própria mente.

 

Agora vamos lembrar rapidamente das aulas de português. Seis elementos são necessários para haver a comunicação: emissor, receptor, mensagem, canal, contexto e o código. Alguém que comunica a mensagem, alguém que a receba, algum meio dela chegar entre um e outro, aquilo ao que essa mensagem se refere, e o código usado (por exemplo, o português é o código escolhido para que eu transmita esta mensagem para vocês).

 

Mas eu acredito que há um outro elemento, os significados que cada indivíduo dá para as palavras. Como disse semana passada, as questões sócio-culturais são um fator de grande influência ao nosso entendimento de mundo. E a imensidão pessoal transforma como cada um percebe a Vida.

 

E isso funciona nos conceitos que damos a cada expressão. Quando estudamos comunicação não violenta, e os compromissos tolteca, que já apresentei aqui em outra ocasião, somos convidados a esclarecer nos diálogos que estabelecemos, se o que eu entendi é realmente aquilo que a pessoa quis dizer.

 

E pra espanto meu, na imensa maioria das vezes, o que eu entendi não era nem de perto o que a pessoa quis dizer. E vice versa.

 

Cada um cria um dialeto individual. Por mais que a gente pense estar falando a mesma língua, não estamos. Por mais que as palavra soem iguais, não são as mesmas. Todas trazem como compreensão o significado que a pessoa falando (ou ouvindo) relacionou à ela.

 

Faça um teste essa semana. Busque trazer oportunidades dentro de algumas das conversas que tiver com pessoas mais próximas, de perguntar se aquilo era aquilo mesmo.

 

Quando aumentamos nossa sensibilidade, ampliamos a maneira de captar informações. Temos um campo extra sensorial que nos entrega dados que não são absorvidos pelos sentidos básicos, e quando não o desenvolvemos, limitamos a forma como interagimos com o ambiente e o que nele está inserido.

 

Tem uma lenda dos povos nativos que fala que nos tempos antigos, não nos comunicávamos por palavras. Nós não tínhamos o dom da fala e nem do pensamento, mas a comunicação era mais eficiente do que poderíamos imaginar nos dias de hoje, pois conversávamos através da troca sensorial.

 

Eu sentia o que o outro estava sentindo, e isso gerava a verdadeira empatia. Eu me reconhecia no outro, assim como ele se reconhecia em mim. Não havia margem para erros de interpretação de uma das partes.

 

Amávamos plena e completamente. Nos relacionávamos com todos os seres, e ouvíamos o que as plantas e os animais diziam.

 

A comunicação era tão completa, que se alguém precisasse de quietude, todos se afastariam. Se precisasse de ajuda, todos iriam oferecer o que quer que fosse preciso. E se o equilíbrio da Terra estivesse ameaçado, nos reuniríamos para restaurar até o que fosse necessário.

 

E foi quando surgiram os pensamentos, e sua categorização e mensuração, que veio a noção de individualidade e nossa unidade nunca mais foi a mesma.

 

Então, que essa reflexão nos faça professar palavras de união e harmonia. E possamos recriar uma verdadeira comunidade.