Baixada Santista

Briga entre gigantes na novela da ligação seca entre Santos e Guarujá

29/08/2020
Briga entre gigantes na novela da ligação seca entre Santos e Guarujá | Jornal da Orla

A novela da ligação seca entre Santos e Guarujá ganhou um novo capítulo esta semana, com a declaração do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, de que “ponte não combina com porto”. Existe um duelo do gigantes nesta questão: de um lado, a Ecovias, que explora as rodovias do sistema Anchieta-Imigrantes; do outro, empresas que operam no Porto de Santos.

 

Fim de uma novela

A construção da ponte encerraria um drama que se arrasta há mais de um século, que teve direito a projetos mirabolantes e até inauguração de maquete. 

A Ecovias pretende construir uma ponte com 7,5 quilômetros, do Km 64 da Anchieta (entrada de Santos) ao Km 250 da Rodovia Cônego Domênico Rangoni. A ponte teria 85 metros de altura e 750 metros de largura entre os pilares. Segundo a empresa, a construção vai lhe custar R$ 2,9 bilhões. Em troca, ela conseguiria a prorrogação seu contrato para explorar o sistema Anchieta-Imigrantes, que vence em 2026, por mais 30 anos. 

 

Evidentemente, quem utilizar a ponte pagará o que a Ecovias chama de “bloqueio de pagamento”, ou seja, pedágio.

Este projeto conta com o apoio do Governo do Estado e de lideranças políticas locais. “É melhor ‘o bom’ realizado do que ‘o ótimo’ apenas no papel”, costuma dizer o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa.
A Ecovias argumenta que, com a ponte, o percurso rodoviário entre Santos diminuiria dos atuais 45 km para menos de 10 km. Além disso, reduziria em cerca de 50% o fluxo nas balsas.

O projeto da Ecovias está sendo analisado pela Cetesb, órgão do Governo do Estado responsável por emitir licenças ambientais.

 

Chuva de críticas
Os críticos ao projeto de ponte da Ecovias o classificam como inócuo, pois ligaria “nada a lugar algum”. Quem hoje utiliza o sistema de balsas entre Santos e Guarujá dificilmente mudaria a rota para ir até a entrada de Santos, para depois seguir por um trecho rodoviário e só depois se dirigir à área urbana de Guarujá —continuaria fazendo a travessia marítima. 

Já quem vem do Planalto para Guarujá ou Bertioga continuaria usando os acessos hoje disponíveis: Anchieta ou Imigrantes e em seguida Rodovia Piaçaguera: o motorista não seguiria pela Anchieta até a entrada de Santos, para depois pegar o acesso à ponte da Ecovias, seguir por mais um trecho rodoviário e só então chegar à zona urbana de Guarujá.

Estas críticas partes principalmente dos integrantes do movimento “Vou de Túnel”, do qual fazem parte executivos das maiores empresas que atuam no Porto de Santos. Embora evitem reclamar publicamente, eles temem que a ponte prejudique as atuais operações e “estrangule” projetos de ampliação. Além disso, não traria melhorias significativas no tráfego de caminhões entre terminais das duas margens.

Além disso, a ponte da Ecovias atrapalharia o funcionamento do aeroporto civil de Guarujá, por causa de sua altura: 170 metros. Embora tenha sido aprovado pela Aeronáutica, este tamanho inviabilizaria a operação de aeronaves maiores. 

 

Ministro prefere túnel
Em entrevista ao jornal A Tribuna na quarta-feira (26), o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, deixou clara a sua posição: “Eu não posso querer uma ponte que prejudique as manobras, que esteja localizada em uma área de evolução, isso não condiz com o maior porto do hemisfério sul. A gente tem que ter um cuidado com o Porto, que é um patrimônio que nós temos”, disse. "Não podemos deixar que esse movimento seja contido por uma barreira física, uma barreira que não existe em portos pelo mundo”, completou.

Freitas acrescentou que o Governo do Estado “entendeu as preocupações do setor portuário e está fazendo um trabalho exaustivo para adequar o projeto de engenharia às questões ligadas à manobrabilidade”. Segundo ele, uma nova versão do projeto deve ser apresentada em setembro. “A partir do momento que a ponte não represente um obstáculo para a manobrabilidade, não tem problema”.

O ministro também deixou claro que sua preferência para a ligação seca é a construção de um túnel sob o canal do estuário e esta obra, orçada em R$ 2,5 bilhões, pode ser incluída no processo de desestatização da autoridade portuária, previsto para ser concluído em 2022.