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A morte de Ivan Ilitch

18/11/2020
A morte de Ivan Ilitch | Jornal da Orla

A morte, esta desconhecida que a todos assombra pela sua insuperabilidade, é temática frequente nas literaturas. Philip Roth dedicou seu livro Patrimônio à batalha do pai contra uma doença invencível. Em Intermitências da Morte, de José Saramago, a morte deu ares de protagonista e apareceu em carne (carne?) e osso. Já em A menina que roubava livros (Markus Zusak) a morte se encarregou de narrar a estória. Não existe, possivelmente, assunto mais universal do que este. 

 

De acordo com seus próximos, Tolstói tinha fixação pelo tema. Seu filho Lev declarou que o pai passou os últimos 30 anos falando sobre a morte todos os dias – e a temia profundamente. Não por acaso o russo se tornou um especialista da morte na literatura: cada passamento em seus livros foi tratado com profunda minúcia, cada herói que rompia a vida recebia a narração detalhada do último suspiro. Uma obsessão. 

 

A morte de Ivan Ilitch, esta pequenina novela, sintetizou poderosamente o culto que o russo prestava à morte. Afinal, o que pode haver de interessante na vida de Ivan, um fútil magistrado a quem só interessava jogar carteado, participar de encontros da alta sociedade, ostentar seu cargo e manter-se o menos chateado possível com sua família de conveniência? A resposta, claro, é o seu padecimento moribundo rumo à morte e a epifania que o lampeja em seus últimos momentos. 

 

Um clássico russo que nos arremete numa catarse de agonia e na eterna busca pelo sentido da vida e da morte. 

 

Motivos para ler:

 

1 – Lev Tolstói integra o primeiro escalão da literatura mundial e fez parte da Idade de Ouro da espetacular literatura russa. Há pelo menos duas obras que o consagraram e figuram, aclamadamente, no panteão dos livros para sempre: os monumentais Guerra e Paz e Ana Karênina. A morte de Ivan Ilitch pode ser uma bela porta de entrada para o mundo de Tolstói;

 

2 – Com menos de 100 páginas, lê-se num tiro;

 

3 – Grandes artistas normalmente também carregam grandes personalidades. Por isso é interessante conhecer o cidadão por trás do escritor, a mulher por trás da cantora, o modo de ser e viver do grande ator ou como aqueloutra artista enxerga o mundo. Tolstói foi um homem intenso, particularmente em seus últimos anos, quando se retirou para um mosteiro e renunciou a todos os seus bens materiais. Experimente saber mais sobre seus artistas preferidos. Sua identificação pode crescer exponencialmente ou, ao contrário, esmorecer pela falta de graça e conteúdo.  


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