Livros e mais livros

Não basta não ser racista – sejamos antirracistas

25/11/2020
Não basta não ser racista – sejamos antirracistas | Jornal da Orla

Diangelo, professora universitária estadunidense, dedicou mais de 20 anos de pesquisa científica ao estudo dos padrões raciais. Seu trabalho resultou neste bem sucedido livro que já nasceu clássico: Não basta não ser racista – sejamos antirracistas. Surpreendentemente – considerando que o tema revira sensações desconfortáveis para muita gente – o livro ocupa as primeiras posições das listas dos mais vendidos do mundo desde o seu lançamento. 

 

Cada capítulo do livro funciona como uma lente ótica para esclarecer os diversos modos pelos quais o racismo opera e tenta a todo custo se perpetuar, mormente em nações erguidas sobre os escombros de uma escravidão duradoura. O eixo fundamental é provocar os brancos a amadurecerem e enfim notarem que as sociedades, os direitos, os recursos e privilégios foram construídos a partir da branquitude; afinal, é o homem branco quem domina as cadeias hierárquicas de gênero e raça e por isso têm o poder de definir a sua realidade e a dos demais. 

 

O livro inaugurou um conceito muito feliz: a fragilidade branca, uma sensação encarnada em todos nós. Pesquisas demonstraram que as crianças desenvolvem um senso de superioridade branca desde a pré-escola. Todos os indicativos humanos evidenciam que há um sistema que privilegia brancos. E o branco, quando confrontado com esse estado de coisas, põe-se na defensiva, exercitando inconscientemente a defesa de seus privilégios: trivializa o racismo estrutural como se fosse uma questão individual, silencia a discussão, faz os brancos de vítimas, vocifera contra ações afirmativas de igualdade. Posições que, à evidência, reforçam o racismo. 

 

“Se nos recursarmos a ver um problema, não poderemos lidar com ele”. Quanto menos se fala numa chaga social, mais ela cresce. Assuntos que reclamam políticas públicas de Estado devem receber luz e debate, nunca descaso. Não basta não ser racista. 

 

Motivos para ler:

1 – Idealizado para promover reflexões sobre a consciência negra, o último 20 de novembro foi gravemente deturpado. Um ocupante de alto cargo afirmou que “não existe racismo no Brasil”, o mesmo que um par de anos atrás exaltou a beleza de seu neto usando o termo “branqueamento da raça”. A questão racial é forte no país, óbvia demais para ser ignorada. Perceba seu entorno: não são vistas pessoas negras em alguns ambientes (experimente encontrá-las no Salão do Automóvel e falhe miseravelmente); noutros, de forma muito rarefeita, como em boas escolas, restaurantes e universidades. Negros compõem a maioria do povo brasileiro. Onde estão os negros do Brasil?;

 

2 – A autora traz experiências interessantes. Veja esta situação em uma palestra que ministrou numa empresa: “Acabei de apresentar uma definição de racismo. Um homem branco está batendo o punho na mesa e gritando: “Uma pessoa branca não consegue mais empregos!”. Olho para a sala e vejo 40 funcionários, sendo 38 deles brancos.”;

 

3 – Brancos se beneficiam automática e instintivamente dos efeitos do racismo. Notar sua posição de fala e privilégio é o primeiro passo para avançar neste importante debate. A literatura também é um poderoso instrumento para ganhar empatia e despir preconceitos. Nossa vida é estreita. É lendo que tomamos parte do mundo, que conhecemos outros modos de ser e viver que não alcançaríamos senão pelas letras dos escritores. Ler mais e melhor te tornará um cidadão politicamente consciente e, sobretudo, livre. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.