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Vingança planejada

28/11/2020
Vingança planejada | Jornal da Orla

O professor estava no portão da Universidade quando foi abordado por um dos seus alunos do último ano da Faculdade de Medicina.

De forma repentina, o jovem lhe disse: 

-Professor, minha formatura será no dia 18 de dezembro. Quero que o senhor saiba de uma coisa.

-Sempre gostei da forma como conduz com humanidade o seu ensino. Por isso, eu quero lhe confidenciar um projeto que acalento desde algum tempo.

-Sabe, quando eu nasci, fui abandonado pelos meus pais. Fui criado pelos meus tios.

-Nunca perdoei minha mãe e meu pai por me rejeitarem. Então, no dia da minha formatura, pretendo dar um presente para eles: vou me matar.

-Vou deixar um bilhete muito bem escrito, culpando-os pelo meu gesto. Quero que eles sofram, que sintam remorso pelo que fizeram.

O professor tremeu. Esqueceu o compromisso que tinha, esqueceu de quem o esperava em algum lugar para o almoço.

Ali estava um jovem que iria destruir a sua vida, pensando em uma vingança. Dr. Laércio o chamou para um lugar mais reservado.

E a primeira pergunta que lhe dirigiu foi:

-Meu filho, você diz que planejou se matar no dia da sua formatura, para castigar os seus pais porque eles o abandonaram. 

Deu-se uma pequena pausa, e o Dr. Laércio continuou:

-Mas, você pensou nos seus tios? Pensou em como despedaçará os seus corações, eles que o acolheram desde o nascimento, que lhe deram carinho, que lhe ofereceram o regaço de pai e mãe?

-Imaginou, por um minuto que seja, a dor que estraçalhará as suas vidas? Eles investiram amor em você, eles se sacrificaram para que você pudesse cursar a Faculdade.

-Pensou em como eles devem estar aguardando, ansiosos, para assistirem a sua colação de grau? E você pensa em lhes oferecer o seu cadáver?

À medida que o professor falava, o rapaz foi se encostando na parede da sala e, devagarinho, foi arqueando as pernas, até se sentar no chão.

Lágrimas lhe corriam pela face. Soluços lhe sacudiam o corpo.

A conversa se estendeu e, quando foi concluída, o formando desistira da ideia suicida.

[com base em fato real e também na Redação do Momento Espírita]

Assim acontece, muitas vezes, com algumas almas infelizes. Arquitetam a própria morte por vingança, porque desejam ferir alguém.

De outras vezes, porque sentem tanta dor que pensam que destruindo a vida, acabarão com a dor.

Enfim, muitos motivos existem para a fuga enganosa pelo suicídio.

Porém, de modo geral, aquele que isso planeja não pensa no coração de mãe que se despedaçará ao ter o corpo do filho morto nos braços.

No coração do pai que sonhou tanta felicidade para aquele filho e agora lhe acompanha o corpo ao cemitério.

Irmãos, primos, tios, avós, namorado(a), amigos, colegas, todos são envolvidos na tragédia. E, para alguns deles, o abalo será tão grande que demorará muito para se restabelecerem psiquicamente.

Bom, graças a um professor que se dispôs a ouvir e a conversar, passados dez anos, o reencontro de ambos foi emocionante.

Um era o velho mestre, à beira da aposentadoria, o outro um cirurgião cheio de planos, vigor e alegria de viver.

O abraço de ambos foi longo e, com a voz embargada, o ainda jovem segredou ao ouvido do seu salvador: -Obrigado, professor, pela minha vida.

-Obrigado, por me recordar da gratidão que eu devia e deverei sempre aos que me acolheram como filho.

 PAZ, SAÚDE E PROSPERIDADE

 

 

 


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