Livros e mais livros

O mundo assombrado pelos demônios

09/12/2020
O mundo assombrado pelos demônios | Jornal da Orla

Carl Sagan viveu uma vida extraordinária. Cientista especializado em astronomia, teve atuação destacada no projeto espacial estadunidense e desencadeou progressos espetaculares na exploração do sistema solar. Sua paixão pelo trabalho, a ambição de divulgar a ciência ao grande público, seus talentos como escritor e orador e o carisma inigualável o transformaram no primeiro “cientista pop” do mundo.  

O mundo assombrado pelos demônios elenca brilhantes ensaios que lançam luzes sobre a escuridão dos homens. Os “demônios” sempre estiveram à solta sussurrando em nossos ouvidos: a anticiência, as crenças malucas, os demagogos, a estupidez, os preconceitos. O método científico se propõe justamente a nos salvar desses demônios – e de nós mesmos.

O livro aborda as pseudociências (astrologia, criacionismo, religiões mal aplicadas) e sua faceta radical, a anticiência, patrocinada por poderosos para desmerecer a ciência “inconveniente” que passou a expor, p. ex., o desastre da poluição ambiental. Também traça um interessante paralelo histórico entre bruxas, fantasmas e alienígenas, tudo pelo crivo da ciência. E você sabia que presidentes consultavam astrólogos para tomar decisões? Reagan o fazia. Charlatões decidindo o futuro de países, perceba o perigo. Isso acontece ainda hoje.

Sagan foi um cético no melhor sentido. Ensinou que a verdade chega por meio das perguntas certas e que devemos aceitá-la mesmo quando nossas convicções pessoais são outras. Alegações incríveis exigem provas extraordinárias. O homem adora se iludir com óvnis, espíritos de 35 mil anos, remédios milagrosos, demagogos falastrões. As teorias da conspiração são sedutoras, mas não resistem ao método científico. Fique com a ciência. 

 

Motivos para ler:

1– O gênio de Sagan não se restringia ao seu objeto de trabalho. Sagan foi um erudito, muito culto. Não à toa escrevia tão bem, a ponto de receber o prestigiado Prêmio Pulitzer por literatura de não ficção. Seu expansivo campo de conhecimento permitiu-o cotejar astronomia com pensadores clássicos, boa dose de história e profundas noções de política de Estado;

2– Sagan difundiu o método cético de pensar, colocando-o como postura de vida. Entendia que ensinar o hábito de pensar ceticamente produziria melhores cidadãos, mais cônscios e humanos. Dizia que pessoas cético-científicas “talvez comecem a fazer perguntas incômodas sobre instituições econômicas, sociais, políticas ou religiosas. Talvez desafiem as opiniões daqueles que se encontram no poder”. Ser um cético sério é evitar ser enganado, inclusive por si mesmo. É ser aberto a novas ideias e respeitar o conhecimento já sedimentado. Pode-se questionar a teoria dos buracos negros, mas não se pode dizer que a Terra é plana;

3– Se você não conhece Carl Sagan, procure saber mais. Sua séria televisiva Cosmos apresentou uma geração inteira às maravilhas da ciência. Vá ao Google e ao Youtube e procure seus programas e entrevistas. Genial, bem humorado, carismático e assombrosamente inteligente: este foi Carl Sagan.

 

 

 

 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.