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A vida mentirosa dos adultos

10/03/2021
A vida mentirosa dos adultos | Jornal da Orla

 Falar da italiana Elena Ferrante é falar do maior fenômeno literário contemporâneo. Autora da famosa e festejada tetralogia iniciada com “A amiga genial”, Ferrante se tornou best-seller no globo (a Terra não é plana, faz bem repisar nestes tempos) e ganhou leitores dedicados. A par da inquestionável qualidade, outro elemento colabora para o frisson em torno da misteriosa escritora: ninguém sabe quem ela é. Isso mesmo: Ferrante permanece até hoje no anonimato. Dela só se sabe ser italiana; de resto, pura especulação.

 

A vida mentirosa dos adultos é seu romance mais recente. Nele, Ferrante cuida de dois temas já conhecidos dos leitores: a cidade de Nápoles e o intrincado universo feminino. O livro trata da transição da infância para a adolescência de Giovanna, dos 12 até os 16 anos. Tudo se inicia com a jovem ouvindo fortuitamente um comentário de seu pai. Daí para diante Giovanna incidirá fortemente nos dramas dessa fase, até formar a convicção de que se tornará uma adulta “como jamais havia acontecido com nenhuma outra mulher”. Não duvidamos. Giovanna descobriu, em meio à sua embaralhada desilusão, que a inocência não existe, que os adultos fazem de tudo e qualquer coisa para se satisfazerem, que o mundo não passa de grande jogo. E ela, enfim, pragmaticamente aprendeu a jogar. E quer vencer.

 

O destaque do livro fica por conta da já conhecida habilidade da autora em significar as adversidades de ser mulher num mundo moldado pelos homens. A relação da jovem com sua tia Vittoria é um show à parte, bem como a metáfora que envolve a pulseira de ouro. 

 

Elena Ferrante, sem medo de errar, sempre vale a pena. 

 

Motivos para ler:

1– Elena Ferrante é um mistério. O único dado sério sobre sua identidade é a pátria italiana. Especula-se ser de Nápoles, já que seus romances costumam lá se ambientar e a autora demonstra conhecer muito bem as especificidades da cidade e de sua gente. Há diversas teorias, algumas malucas, outras nem tanto. A insinuação que ganhou mais força acentua que Ferrante seria a tradutora Anita Raja, esposa do talentoso escritor Domenico Starnone. De certeza, nada. Se você descobrir algo, nos avise; 

 

2– Notícia excelente: a maravilhosa série televisiva da HBO baseada na tetralogia napolitana de Ferrante prossegue sendo filmada. As duas primeiras temporadas estão disponíveis e são espetaculares, confira; 

 

3– Um assunto que certamente habita a cabeça dos escritores – ainda que eles finjam não ligar para isso- diz respeito à fina arte de começar um romance de forma arrebatadora. Ferrante conseguiu. Eis a primeira frase do livro: “Dois anos antes de sair de casa, meu pai disse à minha mãe que eu era muito feia”. 

 

 

 

 

 

 


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