Notícias

Kirk Douglas – Uma Estrela do Judaísmo

31/03/2021
Kirk Douglas – Uma Estrela do Judaísmo | Jornal da Orla

Uma das características principais de Kirk Douglas era seu queixo. Uma marca registrada. O queixo do ator de cinema com covinhas, heroico e viril. O queixo característico de Kirk Douglas. Seu judaísmo também foi uma marca registrada.

 
Mas, embora o queixo não tenha mudado, claramente o ícone de Hollywood mudou. 

 
Após um sério acidente aéreo, em 1991, surgiu um homem transformado, decidido a dar sentido à sua vida ao colocar o judaísmo no centro dela, um homem cujo senso de espiritualidade e reconexão com a fonte do judaísmo permeou sua arte, sua família, seu próprio ser.

 
Kirk Douglas nasceu com o nome de Issur Danielovitch. Seus pais, Herschel e Byrna, imigraram da Rússia para os Estados Unidos.

 
A família se estabeleceu na pequena cidade de Amsterdam, no interior do estado de Nova York, perto de Albany. Douglas era um dos sete filhos e o único menino, nascido em 9 de dezembro de 1916. Ele e suas irmãs cresceram falando iídiche em casa.

 
As fábricas de têxteis eram os principais empregadores da cidade, mas se recusavam a contratar judeus.

 
O pai de Douglas trabalhava comprando e vendendo retalhos de tecido.

 
“Mesmo na Eagle Street, na parte mais pobre da cidade, onde todas as famílias estavam lutando”, lembrou Douglas mais tarde, “o vendedor de retalhos estava no degrau mais baixo da escada … E eu era o filho desse vendedor”.

 
Enquanto crescia, Douglas vendia lanches para trabalhadores das fábricas para ganhar o suficiente a fim de comprar leite e pão para ajudar sua família. 

 
Mais tarde, ele entregou jornais e durante sua juventude teve mais de quarenta empregos antes de se tornar ator. Ele descobriu que morar em uma família com seis irmãs era sufocante: “Eu estava morrendo de vontade de sair. Em certo sentido, acendeu um fogo embaixo de mim”.

 
Sua chance de escapar de lá veio logo após seu bar mitzvá, quando a Sinagoga dos Filhos de Israel se ofereceu para patrocinar seus estudos rabínicos. 

 
Douglas recusou firmemente, declarando que se tornaria ator. Ele se apegou a essa ambição enquanto frequentava a Saint Lawrence University com uma bolsa de estudos de luta livre. 

 
Antes que ele pudesse começar sua carreira, a Segunda Guerra Mundial o afetou. De 1941 a 1945, Douglas serviu na Marinha dos Estados Unidos como oficial de comunicações na guerra antissubmarina. 

 
Douglas logo encontrou fama em Hollywood. Sua primeira grande chance foi o clássico de 1946 The Strange Love of Martha Ivers, no qual ele interpretou um homem fraco que testemunha um assassinato. Numa carreira meteórica, em seu apogeu, Douglas apareceu em até três filmes por ano, muitas vezes com alguns dos maiores nomes de Hollywood.

 
Em 1955, ele montou sua própria produtora, batizando-a de Byrna Productions em homenagem à sua mãe. A Byrna Productions produziu alguns dos filmes mais bem recebidos de Douglas, incluindo Paths of Glory (1957), Spartacus (1960) e Seven Days in May (1964). 

 
Douglas mais tarde refletiu para um jornalista do Hollywood Repórter antes de abrir um sorriso e compartilhar uma boa memória: “Quando penso em minha mãe, que não sabia ler nem escrever, uma camponesa da Rússia”!

 
Com fama e fortuna cada vez maiores, Douglas mostrava pouco interesse na prática judaica, embora houvesse exceções.

 
“Eu sempre jejuei no Yom Kippur”, disse ele a um repórter. “Eu mesmo assim trabalhava no set de filmagem, mas jejuava. E deixe-me dizer a você, não é fácil fazer amor com Lana Turner com o estômago vazio".

 
Em seus últimos anos, Douglas viria a abraçar seu judaísmo de uma forma ardente, uma mudança que ele experimentou depois de uma colisão quase fatal em 1991 entre seu helicóptero e um avião de acrobacias em que dois homens mais jovens morreram. O acidente comprimiu sua coluna em sete centímetros. Enquanto estava deitado em uma cama de hospital com dores terríveis nas costas, ele começou a ponderar sobre o significado de sua vida.

 
“Passei a acreditar que fui poupado porque eu ainda não havia entendido o que significa ser judeu”, disse ele.

 
Douglas embarcou em um ciclo intenso de estudo da Torá com vários jovens rabinos e celebrou um segundo bar mitzvá aos 83 anos, dizendo aos luminares de Hollywood sentados nos 200 lugares do Templo do Sinai para a ocasião: “Hoje, sou um homem ”.

 
 
Douglas e sua segunda esposa Anne Buynes se tornaram um dos principais casais filantrópicos de Hollywood, estabelecendo a Fundação Douglas e doando um total de cerca de US $100 milhões para causas de caridade. 

 
Os beneficiários incluem playgrounds em áreas pobres de Los Angeles e Jerusalém, sinagogas e o Kirk Douglas Theatre em Aish HaTorah em Jerusalém, que oferece aos visitantes da cidade sagrada filmes educativos sobre judeus e judaísmo.
 

O filho de Kirk Douglas, Michael, falou publicamente sobre sua conexão com sua herança judaica. Em 2015, ele escreveu sobre uma experiência terrível que seu filho Dylan teve durante umas férias na Espanha: um colega de hotel, vendo a estrela judia que Dylan estava usando, começou a gritar com o menino. Michael confrontou o homem, apontando como era errado atacar uma criança que ostentava um símbolo judeu. 

 
“Depois”, lembrou ele, “sentei-me com meu filho e disse: ‘ Dylan, você acabou de provar o antissemitismo. ’”

 
Em 1996, Kirk Douglas sofreu um derrame que o deixou sem fala. Ele caiu em uma depressão profunda que quase o levou a tirar a própria vida.

 
Por meio de uma terapia fonoaudiológica rigorosa, Douglas aprendeu sozinho a falar de novo – devagar, com uma ligeira dificuldade. 

 
Kirk Douglas faleceu em sua casa em Beverly Hills, Califórnia, cercado por sua família em 5 de fevereiro de 2020, aos 103 anos. 

 
Ao longo de uma carreira que abrangeu 87 filmes – incluindo 73 longas-metragens e 14 na televisão – o loiro Kirk Douglas de olhos azuis interpretou romanos, vikings e vários bandidos. Também foi o autor de 11 livros.

 
Três vezes nomeado para o Oscar e ganhador de um Oscar pelo conjunto de sua obra e uma Medalha Presidencial da Liberdade, Douglas evoluiu de um jovem egocêntrico para um ator multitalentoso, diretor, autor, filantropo e aluno da Torá que deixou uma impressão profunda em Hollywood e no povo judeu.