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Em 2020, Bolsonaro recusou a compra de 400 milhões de doses

03/04/2021
Em 2020, Bolsonaro recusou a compra de 400 milhões de doses | Jornal da Orla

Embora seja uma informação importante, vamos esquecer que o presidente Jair Bolsonaro buscou desqualificar a Coronavac (a "vachina", que hoje é responsável por 90% da imunização feita no Brasil) e disse que quem tomasse vacina da Pfizer poderia "virar jacaré". Os erros foram muito maiores. 

1. Em maio do ano passado, havia 114 pesquisas de vacinas cadastradas na Organização Mundial da Saúde, dez destas mais promissoras e já na fase de testes. Entre elas, ModeRNA, Novavax, Coronavac, Pfizer, AstraZeneca, Sputnik e Soberana. Vários países (como Chile, Colômbia, Reino Unido e integrantes da União Europeia) assinaram acordos e garantiram prioridade na aquisição de doses, assim que as vacinas fossem aprovadas pelos órgaos de regulamentação. O Brasil não fez este movimento.

2. O Brasil tinha o direito de adquirir até 212,5 milhões de doses do consórcio Covax Facitilty, uma iniciativa da OMS para garantir a vacinação em países mais pobres, quantidade suficiente para imunizar metade da população. O governo federal decidiu pela aquisição de apenas 42,5 milhões de doses. Aliás, o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, trabalhou o tempo todo contra este acordo, por ser contra o que ele chama de "globalismo".

3. Em três oportunidades (a primeira em 15 de agosto de 2020), a Pfizer ofereceu 70 milhões de doses ao governo brasileiro. O presidente Jair Bolsonaro recusou, alegando que o contrato (aceito por todos os governos dos outros países) era "draconiano".

 

O Instituto Butantan ofereceu 160 milhões de doses da Coronavac para o Ministério da Saúde em três oportunidades, em 30 de julho, 18 de agosto e 7 de outubro. Nunca obteve resposta. No dia 19 de outubro, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, assinou a contratação de 46 milhões de doses. No dia seguinte, o presidente Bolsonaro mandou cancelar. "O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade".

 

Presidente preferiu recomendar cloroquina
Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro não acreditou a eficácia de vacinas para conter a pandemia. Primeiro, disse que o próprios sistema imunológico do brasileiro seria capaz de combater a doença. "O brasileiro mergulha no esgoto e não acontece nada", disse em 26 de março de 2020.

Se tivesse apostado nas vacinas, o presidente poderia ter determinado a construção de fábricas de vacina. Em São Paulo, o governador João Doria iniciou em novembro a construção de uma fábrica do Instituto Butantan com capacidade para produzir 100 milhões de doses por ano. A obra terá um custo de um custo de R$ 160 milhões, sendo R$ 130 milhões doados por 24 empresas. A previsão é que fique pronta em setembro.

Com a capacidade de aporte de recursos do governo federal, o presidente poderia, por exemplo, ter determinado a construção de quatro fábricas, na metade do tempo, o que permitiria boa parte dos brasileiros já estarem vacinados. Após a imunização completa da população, o país poderia exportar doses para os outros países. Mas Bolsonaro preferiu recomendar cloroquina.