Economia

Sem controle da pandemia, não há retomada econômica

03/04/2021
Sem controle da pandemia, não há retomada econômica | Jornal da Orla

Apesar de alguns segmentos da sociedade tentarem travar um debate ideológico, não há contradição entre adotar medidas de restrição de funcionamento e “salvar a economia”. A atividade econômica só será retomada quando a pandemia estiver controlada. E isso só ocorrerá quando ao menos 70% dos brasileiros estiverem vacinados. Até agora, apenas 2,4% da população brasileira foi imunizada (recebeu duas doses) e aproximadamente 8,2% receberam ao menos uma dose.

 

Comércios fechados ou com horários restritos hoje são consequência do comportamento do governo federal no ano passado, quando minimizou a letalidade do vírus e não comprou vacinas, e das regras contraditórias ou inócuas determinadas pelo governador João Doria.

Além das irreparáveis perdas de vidas (cerca de 320 mil até agora, quase 4 mil por dia), a pandemia deixa uma legião de sequelados (11,1 milhões até o momento), pessoas que ficam incapacitadas para o trabalho e precisam passar por intensos tratamentos de recuperação, que vão de fisioterapia a fonoaudiologia. 

Por conta da necessária restrição, cai também o consumo. Efeito colateral: empresas fechando, pessoas sem trabalho. Esta verdadeira bola de neve só será derretida com a vacinação em massa dos brasileiros. Enquanto isso não acontece, é preciso conter a disseminação do vírus: uso de máscara, redução de contato entre as pessoas, higienização.

 

Governo fracassa no aspecto econômico
No ano passado, o governo federal demorou para adotar medidas que atenuassem o impacto econômico para trabalhadores e empresários e os efeitos estão sendo sentidos agora. 

Inicialmente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, propôs um auxílio-emergencial de R$ 200. O Congresso Nacional reagiu, aumentou para R$ 500 e o presidente Jair Bolsonaro, para não posar de derrotado, subiu para R$ 600. 

No total, foram gastos R$ 288 bilhões, distribuídos entre 68 milhões de pessoas. Além de demorar para começar a ser pago (o estado de calamidade sanitária foi decretado em 20 de março e a primeira parcela paga em 25 de julho), o governo federal deu dinheiro para quem não precisava —pessoas com renda alta, funcionários públicos e militares, por exemplo.

Para as empresas, a ajuda também foi tímida. Inicialmente, o presidente Jair Bolsonaro defendia a interrupção dos contratos de trabalho, sem nenhuma garantia aos empregados. Alertado das consequências, recuou e criou o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm). 

Este programa concedeu um auxílio para pessoas que tiveram o contrato de trabalho suspenso temporariamente ou redução na jornada de trabalho (e salário). No total, foram gastos R$ 33,5 bilhões para viabilizar 19,8 milhões de acordos. 

O Ministério da Economia estima que a medida ajudou a preservar 10,2 milhões de empregos e evitou o fechamento de 1,5 milhão de empresas. No entanto, em 2020, 7,3 milhões de pessoas perderam o trabalho. 

 

Na quinta-feira (31), o governo anunciou que pretende retomar o BEm “nos próximos dias”, para beneficiar 4 milhões de trabalhadores, com um custo estimado de R$ 10 bilhões. Ou seja, 15,8 milhões de brasileiros atendidos em 2020 vão ficar no limbo.