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Não queira reviver a noite da grande festa

29/04/2021
Não queira reviver a noite da grande festa | Jornal da Orla

A vida é feita de momentos colecionáveis, não repetidos. A ideia de tentar reviver algo incrível que se tenha guardado na lembrança, em muitas vezes, só gera frustração.

 

Pelo menos não tente repeti-la de alguma forma. Reproduzi-la ou criar algo que possa servir de comparação. A régua de parâmetro é muito alta, meu amigo. Não se arrisque neste salto.

 

Se for para voltar, que seja apenas visitando na memória. Busque as imagens, um pouco desfocadas e apagadas, guardadas em um canto especial dentro de você.

 

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, né Lulu?

Isso é um lamento ou uma constatação feliz de quem sabe o que viveu? Éramos felizes e, sim, sabíamos.

 

Dizem que a área do nosso cérebro responsável por armazenar e acessar as lembranças é a mesma onde acontece a imaginação. Quando lembramos de algo, estamos colocando muito do que imaginamos daquele momento ali.

 

Quanto do que você se lembra realmente aconteceu daquele jeito, ou essa lembrança tem muito da parcela do que causou em você? E se causou, se provocou uma sensação que te faça recordar até hoje, quem dirá que não aconteceu? Relembrar é imaginar.

 

Eles dirão que você é saudosista, nostálgico, que vive do passado. E eles estão certos. Você é tudo isso mesmo. Todos nós somos. Inclusive os que negam. A melhor solução para isso? Criar novos passados incríveis.

 

Apenas acumule novos momentos para querer rememorar. Reúna todos. Diversifique. Misture as pessoas, os lugares, os sons. Bagunce os cheiros, as cores e os amores.

 

Pague o preço cobrado pelos momentos inesquecíveis: sinta saudade. Feche os olhos e deixe-se transportar. Relembre cada detalhe de cada momento. Ouça novamente o que ele disse, leia novamente o que ela escreveu. Sorria sozinho ouvindo aquela música, viaje no tempo olhando uma foto, dance na fila do banco lembrando daquela noite.

 

A sabedoria popular nos ensina que uma pessoa não mergulha duas vezes no mesmo rio. Quando ela retorna para o segundo mergulho, o rio já não é o mesmo. E a pessoa muito menos.

 

Talvez a vida não venha em ondas, Lulu. Ou venha, mas seja algo mais parecido com a correnteza de um rio, carregando velhas histórias e acumulando novas.

 

E talvez valha mais a pena chegar à margem, olhar, rever, sentir novamente aquele mergulho, apenas observando as lembranças carregadas pela correnteza, estando ali mesmo, sentado à Beira-rio.