Notícias

Meron e O Túmulo do Grande Sábio Shimon Bar Yochai

05/05/2021
Meron e O Túmulo do Grande Sábio Shimon Bar Yochai | Jornal da Orla

Meron. Ostensivamente, não há razão para viajar até lá. É uma pequena cidade situada em uma montanha nas florestas do norte de Israel. Quase não tem uma rua principal.

 
Talvez sua única reivindicação à fama seja o fato de servir como local de descanso final para figuras rabínicas famosas: Hillel, Shammai e Shimon Bar Yohai.

 
É também o local de uma das maiores festas de Israel. Todos os anos em Lag BaOmer (18 Iyar), lembramos do grande e sagrado Tanna (sábio mishnaico) Rabi Shimon Bar Yochai, que morreu neste dia cerca de dezoito séculos atrás. E, até hoje, centenas de milhares de judeus ortodoxos e devotos fazem uma peregrinação anual a Kefar Meron, na Terra de Israel, para orar no túmulo deste grande e santo erudito.

 
A História no ensina que o mérito do Rabi Shimon era tão extraordinário que somente Deus e seu mestre podiam apreciá-lo inteiramente.

 
Entretanto, não podemos falar de Rabi Shimon sem primeiro mencionar Rabi Akiva, seu guia.

 
Analfabeto até completar 40 anos, Akiva se tornaria o maior dos mestres do Talmud. Rabi Akiva certamente legou ao maior de seus discípulos os seus dons místicos, a sua paixão insaciável pela Lei de Moisés e a sua forte oposição a todos que não acreditavam num Deus Único.

 
Rabi Shimon, também conhecido como Rashbi (uma sigla tirada das iniciais de seu nome – Rabi Shimon Bar Yochai), viveu durante o segundo século da Era Comum, em época de grandes perseguições romanas.

 
Aqueles foram tempos muito difíceis para o povo judeu na Terra de Israel, sob a perseguição brutal do imperador romano Adriano. Era particularmente difícil para os sábios estudar o Talmud e dirigir escolas. Sob pena de morte, também era proibido ordenar alunos do Talmud. 

 
O Rabino Shimon era um Tanna de "quinta geração". Ele foi contemporâneo de Rabbi Shimon ben Gamliel II, que era o Nasi e de Rabi Meir e Rabi Yehudah ben Ilai, entre outros grandes contemporâneos. 

 
Era um indivíduo complexo, um gigante da Torá que foi influenciado por seu pai, Yochai, por seu grande mestre, Rabi Akiva e pelos eventos de sua época. 

 
Sua principal conquista foi a autoria do “Zohar”, o Torat HaNistar, a Torá Oculta que ele recebeu oralmente de seu professor, Rabi Akiva. 

 
Certa vez, quando Rabi Shimon estava junto com Rabi Yehudah ben Ilai e Rabbi Yose ben Chalafta. Rabi Yehudah elogiou os romanos pela construção de mercados, pontes e casas de banhos. Rabi Yose permaneceu em silêncio. Mas o rabino Shimon Bar Yochai disse que todas essas maravilhas da engenharia foram feitas para o próprio interesse romano. 

 
Quando ouviram isso, os romanos recompensaram Yehudah nomeando-o para um cargo no governo. Rabi Yose, por não o apoiar, foi punido com o exílio. Por sua depreciação dos romanos, Rabi Shimon foi condenado à morte.

 
Sem contar a ninguém sobre seu paradeiro, Rabi Shimon e seu filho Eleazar se esconderam em uma caverna. Uma alfarrobeira brotou na entrada da caverna, bem como uma fonte de água doce. 

 
Por doze anos, Rabi Shimon Bar Yochai e seu filho Elazar moraram na caverna, sustentando-se com alfarroba e água. Durante esse tempo, eles estudaram e oraram até se tornarem os sábios mais sagrados de seus dias.

 
Lá permaneceram estudando a Torá juntos, tanto a Torá Revelada quanto a Oculta. Rabi Shimon escreveu o último material pela primeira vez em um livro chamado “Zohar”, Esplendor.

 
A primeira vez que Rabi Shimon saiu da caverna, ele estava completamente "destoante" com as pessoas de sua geração. Ele observou os judeus cultivando a terra e se engajando em outras atividades normais, e revelou sua desaprovação: "Como as pessoas podem se envolver nos assuntos deste mundo e negligenciar os assuntos do outro mundo?" 

 
Em seguida, uma Voz Celestial foi ouvida, que disse "Bar Yochai, volte para a caverna! Você não está mais apto para a companhia de outros seres humanos." Rabi Shimon voltou para a caverna por mais um ano, reorientou sua perspectiva e emergiu novamente. 

 
Desta vez, ele foi capaz de interagir com as pessoas de sua geração e se tornar um grande professor de Torá, a Revelada e a Oculta.

Conta-nos o Talmud que Bar Yochai estava habituado a ver acontecerem milagres por seu intermédio.

 

Uma pequena história diz que, certa vez, ao entrar em uma sala de estudos, viu os alunos em silêncio. Perguntando a razão para tal inatividade, soube que não tinham óleo e, portanto, estavam sem luz para estudar a Torá. Tinham apenas vinagre que, como se sabe, não é inflamável. Foi então que o Rabi lhes ensinou: "Usem o vinagre e Aquele que ordenou que o óleo queimasse, encarregar-se-á de fazer o mesmo com o vinagre". Os alunos obedeceram e, pasmos, viram o vinagre arder, obtendo com sua chama a luz que lhes faltava para o estudo.

 

Os sábios talmudistas não pouparam palavras de louvor acerca dele, comparando seus dotes proféticos aos de Moshé Rabeinu. E, de fato, os místicos posteriores nos ensinaram que a alma dele se tinha originado na de Moisés e na do Messias.

 

Dizem que, no seu último dia na Terra, o sábio rabino jazia no leito, em casa, cercado de seus discípulos. Algumas horas antes de sua partida deste mundo, ele começou a revelar cada vez mais segredos místicos. Tinha plena consciência de que suas revelações dariam origem, no futuro, a vários movimentos judaicos importantes.

 

Rabi Shimon Bar Yochai e seu filho Elazar estão enterrados em Meron.

 

Em Lag B'Omer, as centenas de milhares de judeus que visitam seu túmulo, imploram a Deus para que, pelo mérito desses dois homens santos, eles próprios sejam merecedores de saúde, descendência e fartura.

 

Como tributo ao Rabi Shimon, acendem-se, anualmente, em Lag Ba'Omer – seja em Meron, em outras partes de Israel ou na Diáspora – grandes fogueiras para celebrar a imensa luz que Rabi Shimon trouxe ao mundo, em especial no dia de seu passamento.

 

 

Sua chama continua acesa. Sua memória e também o seu mérito. Pois assim nos ensinaram os místicos judeus: quando não se tem mais ninguém com quem contar – quando tudo já parece desesperançado – um judeu pode sempre confiar no Rabi Shimon Bar Yochai.