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A humilhação

14/07/2021
A humilhação | Jornal da Orla

O multipremiado escritor estadunidense Philip Roth, falecido em 2018, deixou um contundente legado. Sua sofisticada técnica narrativa e a densidade e criatividade de seus livros o transformaram naquilo que todo autor ambiciona ser: um excelente contador de estórias.  

 

A humilhação é um livro que, no melhor estilo Roth, traduz a angústia existencial humana. Simon Axler, 65, um outrora renomado ator de teatro, vive uma queda colossal: perdeu sua autoconfiança e não consegue mais atuar em bom nível. Questiona-se se já teve talento ou se sempre foi uma fraude, só agora escancarada. Sua vida pessoal, inflamada pelos tormentos profissionais, vai a pique. Sente uma incômoda vertigem e resolve se internar. Aparentemente recuperado, envolve-se com uma jovem num tórrido/erótico/bizarro relacionamento, sobre o qual projeta um feliz futuro. Mas a realidade é implacável, e com ela vem o ridículo, a desonra, a fraqueza e um chocante desfecho. 

 

Um livro dinâmico, de qualidade inquestionável e cheio de reviravoltas, excelente para quem busca uma leitura rápida e impactante. 

 

Motivos para ler:

 

1- Philip Roth é um craque do ofício. Ganhou prêmios de realce: o Pulitzer, o Pen/Faulkner e o Man Booker Internacional Prize. Frequentemente cotado e tido como nome certo para a láurea máxima – o Nobel -, faleceu em 2018 sem recebê-la. Mas a obra permanece, e Roth é um escritor influente e muito lido no mundo inteiro;

 

2- O personagem principal é um ator e o livro, sagazmente, foi estruturado em três atos, simulando a dinâmica teatral. “Sem deixar vestígio” traz a derrocada de Axler, “A transformação” representa a recuperação de seu vigor e “O último ato” fecha, em definitivo, as cortinas; 

 

3- O livro instiga o leitor a refletir sobre a dita “melhor idade” – um falso eufemismo, só útil para quem quer se autoenganar. Envelhecer é, na realidade, um processo de perda de potência e saúde, e encarar isso de frente parece ser o melhor caminho. Axler, envolto num relacionamento ridículo, projeta mil fantasias nessa relação e, quando tudo desmorona, não consegue se reagrupar, provando que a velhice nem sempre é sinônimo de sabedoria e maturidade.


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