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O giz mais colorido de todos

17/07/2021
O giz mais colorido de todos | Jornal da Orla

– Marcão, a gente só faz pergunta difícil para quem tem capacidade de responder!

Marcus Vinicius Batista demonstrou surpresa, alegria e certa timidez para o que considerou um grande elogio. Mas não era adulação, e sim um justo reconhecimento ao jornalista, escritor, editor, professor universitário e, mais recentemente, psicólogo.

Marcão nos deixou prematuramente na quarta-feira (14), vítima da Covid-19. Estava internado em decorrência de complicações no seu quadro de diabetes (teve que amputar dois dedos do pé esquerdo). Piorou rápido, precisou ser intubado e morreu. 

Marcus Batista tinha a capacidade de explicar assuntos complexos com facilidade. Citava e contextualizava o pensamento de densos intelectuais com a simplicidade e clareza que minha mãe tem para passar uma receita culinária. 

Sua fala era serena, precisa e sempre finalizada com uma conclusão longe do óbvio. O olhar do Marcão estava sempre além do horizonte. 

– Porra, Marcão! Nunca tinha pensado nisso — eu lhe disse em diversas ocasiões, ao ser apresentado por ele a uma admirável nova maneira de ver o mundo. Como poucos, soube ajudar a entender a complexidade da natureza humana e das relações sociais. E também tinha a humildade de rever posições e reconstruir o pensamento:

– Marco, você tem razão. Acho que estou sendo excessivamente otimista…- me disse certa vez, numa de nossas divagações sobre a maneira como as pessoas vivem.

Além de otimista, Marcão era sinônimo de generosidade: com os alunos, colegas jornalistas, autores em início de carreira e desconhecidos. Eu coleciono relatos maravilhosos, das mais diferentes pessoas, evidenciando a grandeza do Marcão – daí o nome no superlativo.

Bem humorado, batizou uma coluna que assinava no jornal Boqnews como “Giz sem cor”, quando na verdade conduzia com precisão o mais colorido de todos os gizes.

Sereno, carinhoso, bem humorado, inspirador. Mas também assertivo e elegantemente indignado com o inadmissível. Suas palavras, saindo de sua boca ou eternizadas em textos, serviram de farol na tempestade, colete salva-vidas, lanterna na proa. 

A perda de Marcus Vinícius Batista não é uma mera fatalidade, uma tragédia a ser resignada. É resultado do comportamento canalha e irresponsável do presidente Jair Bolsonaro e seus cúmplices. Marcão foi mais uma das vítimas de ações e omissões que nada têm a ver com “política” – e sim de uma maneira como essas almas sebosas veem o mundo e (não) dão valor à vida.

Marcão faleceu aos 46 anos mas certamente teria mais quatro décadas para produzir, motivar, ajudar, alegrar chegados e desconhecidos. A tragédia é grande para todos nós, mas imensurável para a Beth, sua esposa, os filhos, Mari e Vini.

Mesmo ausente no plano físico, Marcus Vinicius Batista será eternamente (um) presente na vida de todos nós. Marcão é um estado de espírito.