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O peso do pássaro morto

28/07/2021
O peso do pássaro morto | Jornal da Orla

O adágio “nasce uma estrela” deve ser utilizado com parcimônia; afinal, nem sempre um grande feito significa sucesso perene. Entretanto, a máxima pode, sem medo de errar, ser atribuída à jovem Aline Bei. O peso do pássaro morto, seu livro de estreia, espantou público e crítica, tamanha a potência, originalidade e beleza. Aline já é uma bem-vinda realidade nas novas letras brasileiras.

 

O livro desfia a vida de uma mulher dos 8 aos 52 anos. Aos 8 já descobre a morte, a crueldade inocente das crianças e a solidão. Aos 17 se diverte como qualquer adolescente, mas o ego ferido de um rapaz culmina em terror. Com 18 não sente a flor do amor de mãe brotar, porque não pode amar o que a ultrajou. Aos 28, invisível mas existindo, a vida segue num trabalho de escritório qualquer. Ao dobrar uma curva, já com 37, encontra o cão Vento. Aos 50 se muda para uma antiga casa, buscando uma trégua (possível?) sob um novo céu. E aos 52, a desistência. Fechamos o livro e nos perguntamos: quantas perdas cabem na vida de uma mulher?

 

“A cura não existe”, profetiza uma antiga redação escolar que, anos depois, retorna às mãos da personagem. Eis a lápide deste livro, que une a delicadeza à amargura, como uma bela sinfonia em preto e branco sobre toda a dor de uma mulher no mundo.  

 

Motivos para ler:

1- Aline venceu o Prêmio São Paulo de Literatura com este livro e passou com louvor pelo teste de fogo do segundo romance, recentemente publicado com grande sucesso. Sua poética escrita performática (toda e só dela), sua desenvoltura para contar estórias e seu talento muito bem trabalhado a habilitam para ser tudo. Uma carreira para acompanhar de perto. Aline Bei é ouro sobre o azul; 

 

2- O livro evoca sérias questões sobre ser mulher em um mundo moldado pela vontade do homem. As imposições, a vergonha e a humilhação também, principalmente no que diz respeito ao ponto nevrálgico que estraçalhou a vida da personagem, produzem reflexões expressivas. Não por acaso o livro vem sendo objeto de ricos debates em diversos ambientes; 

 

3- Leia mulheres!

 

 

 


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