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Dica da semana: Domando o destino

28/08/2021
Dica da semana: Domando o destino | Jornal da Orla

Mesmo sendo dissecado pelo cinema por diversos e vários pontos de vista ao longo de várias décadas, a imagem do caubói americano continua oferecendo um vasto panorama para a ficção. "Domando o Destino" é um perfeito exemplo do cinema da última ganhadora do Oscar de Melhor Diretora e segunda da história da Academia, a chinesa Chloé Zhao. A diretora nos leva a conhecer a cultura cowboy fazendo um ótimo uso de paisagens para emitir emoções em sua narrativa e com isso, debate a masculinidade e os sentimentos que cercam nossos sonhos, sejam eles bons ou ruins, realizando uma obra emocionante sobre a necessidade de se reinventar, sobre o reconhecimento do que é realmente importante e sobre a constatação de que o que você faz, definitivamente não define quem você é.

O filme, que narra acontecimentos reais, mostra  a frustração e a angústia que passam a fazer parte da rotina de Brady quando ele se vê impedido de montar em cavalos após sofrer um grave acidente no rodeio. Pouco a pouco, o cowboy aprende a domar sua impaciência e tirar maior proveito dessa experiência de profunda introspecção, refletindo sobre sua identidade e a cultura local. Choé Zhao encontra beleza no cotidiano e humanidade em cada gesto, tornando a imersão naquele universo em uma experiência ímpar. A diretora, emprega a obra uma atmosfera naturalista, crua e que nos afeta justamente por sabermos que parte daquilo é real, assim como parte daquela solidão, da busca por um sonho que existe e está dentro de cada personagem apresentado. As sequencias dirigidas pela diretora são hipnotizantes e vão encantar o público por serem tão ternas e repletas de sensibilidade. Apresentando uma história real que é interpretada pela própria pessoa em que teve sua história inspirada, Chloé Zhao captura momentos em que Brady estava em seu emprego real, treinando e domando cavalos selvagens e participando de uma relação cheia de afeto com sua família, especialmente com sua irmã, que cria um laço tão forte com o público que parece que você faz parte daquela família. Poucos diretores conseguem isso.

Curioso saber que, a diretora conheceu a história de Brady quando estava passando um tempo em uma reserva indígena e decidiu escrever o roteiro usando essas pessoas como versões fictícias de si próprias, o que traz ao filme um ar de realismo incrível. Assim, a cineasta cria uma obra que pode até parecer um documentário, porém sua fotografia cria uma rica poesia visual que aborda diversos outros temas: as dificuldades financeiras da família após a lesão de Brady e o impacto psicológico que isso trouxe em todos a sua volta. A fotografia de Joshua James Richards é simplesmente magnífica ao explorar as belas paisagens a céu aberto e o pôr do sol que são de encher os olhos, como nas cenas em que Brady caminha pelas pradarias ao pôr do sol ou quando cavalga pela primeira vez após o acidente.

O realismo do filme é tão grande que os atores amadores incorporam sua própria vivência aos personagens e é surpreendente saber que este é o primeiro e único filme de Brady Jandreau, que entrega uma atuação sensível e impactante , com a segurança de um veterano. Reparem na cena final, onde seu amigo tetraplégico (também em um acidente com cavalos), lhe dá um conselho de vida em um momento emocionante.

Domando o Destino nos inspira a superar os obstáculos e seguir em frente em uma jornada rumo à autodescoberta.  Ao evitar conclusões fáceis para sua obra, a diretora Chloé Zhao entrega um filme tocante e recompensador.

Curiosidades:  Prêmio da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA 2019: premiado como Melhor Filme. Indicado a Melhor Direção.